Primeiro, o narrado em O despenhadeiro, de Fernando Vallejo (Alfaguara, 169 págs.):
“O telefone tocou e atendi: era Carlos dando-me a notícia de que Darío tinha acabado de morrer. Nesse instante entendi que tinham-se cortado os meus últimos vínculos com os vivos. O táxi ia se afastando, afastando, afastando, deixando tudo para trás, um passado perdido, uma vida desperdiçada, um país aos pedaços, um mundo enlouquecido, sem que se pudesse ver nada pela frente, nem dos lados, nada, nem atrás, nada, e indo em direção ao nada, em direção ao sem sentido, e sobre a paisagem invisível e sobre aquilo que se chama da alma, de coração, chorava: chorava gordas lágrimas, a chuva.”
Depois, o do personagem Olho no conto O Olho Silva, de Roberto Bolaño, que faz parte do livro Putas assassinas (Companhia das Letras, 219 págs.):
“Naquela noite, quando voltou ao hotel, sem conseguir parar de chorar por seus filhos mortos, pelos meninos castrados que ele não tinha conhecido, por sua juventude perdida, por todos os jovens que já não eram tão jovens e pelos jovens que morreram jovens, pelos que lutaram por Salvador Allende e pelos que tiveram medo de lutar por Salvador Allende, ligou para seu amigo francês (…) e pediu que lhe mandasse uma passagem de avião e dinheiro (…). Seu amigo francês respondeu que sim, que claro, que mandaria logo, e também perguntou que barulho é este? você está chorando?, e o Olho respondeu que sim, que não sabia o que estava acontecendo, que passava horas chorando. Seu amigo francês disse que se acalmasse. E o Olho riu sem parar de chorar, disse que era isso que faria e desligou o telefone. E continuou chorando sem parar.”
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