Michel Laub

Mês: junho, 2009

Ausência

O blog volta a ser atualizado no meio de agosto.

Egopress

1) Aqui, vídeo com a entrevista que dei para o programa Entrelinhas, da TV Cultura.

2) Semana que vem, como parte do programa Viagem Literária, da secretaria de cultura de SP, estarei em cinco cidades do interior para palestras. E dia 28/6, às 16h, na feira do livro de Ribeirão Preto, participo de uma mesa sobre jornalismo e literatura com Arnaldo Bloch.

Fim de semana

Um discoPreliminaires, de Iggy Pop.

Um relançamentoCemitério de elefantes, de Dalton Trevisan (Record, 108 págs.).

Uma exposição – Rico Lins no Tomie Ohtake.

Um restaurante nordestino – Bar do Biu, na Cardeal.

Um filme para a eternidade (não vi ainda, mas deve ser) 1983, o ano azul.

Verdades pouco ditas do meio literário (2)

Sobre a competição entre autores Ao contrário do que diz o senso comum, tudo o que o escritor quer é gostar dos livros dos seus colegas. Esse é um dos motivos por que sua leitura nunca terá a mesma isenção da que faz o crítico descompromissado ou o público: frase a frase, parágrafo a parágrafo ele torce para que o texto lhe diga alguma coisa, para que ele não precise experimentar a sensação auto-corrosiva de vergonha ao elogiar o autor seu amigo no bar. Não há quem prefira ser hipócrita a ser generoso, mas claro que estou falando do que vejo – para minha perplexidade, ouvi dizer que por aí também existe inveja, rancor, mesquinharia.

Sobre críticas ruins – Evidentemente que uma resenha positiva dá uma certa alegria, assim como uma negativa pode estragar a manhã (e o início da tarde, talvez), mas a importância disso é um tanto relativa. De tanto ser cumprimentado por textos que me desancavam, não foi difícil concluir – surpresa – que a maioria das pessoas não lê críticas, ou lê sem muita atenção, ou lê mal. Daí que devemos torcer apenas para que essas críticas a) saiam na imprensa escrita, e não na Internet, onde vão nos assombrar via Google pelo resto da vida; b) tenham títulos e chamadas meio neutros; c) deixem a cacetada lá para o penúltimo parágrafo ou coisa assim: porque aí, numa silenciosa e apoteótica vingança nossa, a chatice, cretinice e irrelevância do crítico que fala mal da gente – os que elogiam são sempre ótimos – afastará o leitor bem antes.

Dois DVDs: ‘Partículas elementares’ e ‘Once’

Uma das regras em entrevistas de atores, diretores e produtores cinematográficos é jamais definir um filme pelo que ele é, e sim a partir de sentidos graves, maiores. Há pelo menos uns 25 anos que Hollywood, a Europa e o mundo só produzem histórias sobre “o amor”, “o destino”, “a civilização de hoje”, e não sobre um lagarto que sofre mutação genética e por isso destrói uma metrópole a patadas, ou um velho que usa fraldas e gosta de dizer galanteios para as enfermeiras.

Então, não é difícil imaginar como John Carney e Oskar Roehler, diretores de Once e Partículas elementares, respectivamente, apresentariam seus filmes. O primeiro seria um tratado sobre a doçura, sobre como é possível ser simpático, talentoso e altruísta mesmo ganhando a vida como músico de rua no frio cinzento de Dublin. Já o último, bem, acho que dá para afirmar que é sobre escrotidão – porque é assim que normalmente se define um sujeito que se masturba lendo ensaios literários de alunas de 18 anos – ou sobre constrangimento – algo que parece comum em campings nudistas da Alemanha, onde os freqüentadores chegam calçando aquelas sandálias, alguns inclusive de meia, ou em casas de swing onde 138 pessoas feias e tristes dividem uma sala cheia de espelhos para debater Kant e os imperativos categóricos sob uma perspectiva, digamos, multidisciplinar.

Como a escrotidão e o constrangimento são mais freqüentes entre humanos do que a doçura, é provável que haja mais verdade em Partículas elementares do que em Once. Mas as aparências nem sempre estão certas: o filme de Roehler é muito mais engraçado do que sugere, graças ao sarcasmo e à inteligência do roteiro, baseado num romance de Michel Houellebecq, enquanto o de Carney se move pela tristeza, mesmo sendo uma daquelas raras tramas que poupam o espectador de qualquer angústia, deixando-o entregue à mitologia romântica, muitas vezes ingênua, mas também com alguma poesia, de seu enredo.

Um poema de Joca Reiners Terron sobre (e também para) crianças

O chamado da arte

Minha filha está aqui aos meus pés,

desenhando um lindo pássaro numa folha em branco.

O grafite do lápis range, agudo,

enquanto ela risca as linhas

das penas da cauda até o pescoço.

Ao completar o bico, ela diz:

“Pai, esse barulhinho é o canto do pássaro?”.