Michel Laub

Categoria: Outros

Fim de semana

Um livro – São Paulo nas Alturas, Raul Juste Lores (Companhia das
Letras, 352 págs.).

Uma reprise – São Paulo S.A., Luís Sergio Person.

Um depoimento – Júlio Bressane (aqui).

Um filme – A Pior Pessoa do Mundo, Joachim Trier.

Um podcast – Autoritários, Ana Luiza Albuquerque (Folha).

Fim de semana

Um museu em Lima – Larco.

Outro – Mali.

Uma antologia – Trajetória Crítica, Jean-Claude Bernardet (Martins Fontes, 342 págs.).

Um relato Dezessete anos, Colombe Schneck (Relicário, 80 págs.).

Um filme com momentos – Dias Perfeitos, Wim Wenders.

Elegância deslocada

A primeira qualidade de um texto sobre artes visuais, e perdão por dizer o óbvio, é saber ver o seu objeto. Um pequeno livro do editor Flávio Moura, que gira em torno de uma escultura do artista mineiro Amilcar de Castro (1920-2002), começa a mostrar isso ao falar de um corte em diagonal que atravessa uma chapa de aço retangular. Unida pela parte de cima, a peça é dobrada e forma duas hastes “quase triangulares e longilíneas”, apoiadas no piso “de forma transversal” e tendo “um vão igualmente triangular entre elas”.

O nome do livro é o nome peça, Sem Título, de Amilcar de Castro (Edusp, coleção Prismas, 76 págs.). Embora se aprofunde em temas estéticos, reproduzindo debates que vêm da época do neoconcretismo brasileiro, Moura nunca perde de vista a solidez do vocabulário descritivo, vindo de disciplinas como a geometria e a engenharia. É dessa planície clara que enxergamos os picos às vezes abstratos do pensamento crítico: há um complemento entre as interpretações de nomes como Rodrigo Naves, Luiz Renato Martins e Ronaldo Brito, com suas imagens que explicam as relações entre plano e volume, peso e leveza, tempo e matéria na obra de Amilcar (“forma difícil”, “premissa tectônica”, “gravidade ética do movimento”), e a citação de guindastes, caçambas, maçaricos, pontos de solda.

Falar sobre Sem Título é, antes de tudo, discorrer sobre uma imposição física. A peça tem 16m de altura, 4m de largura, 5 cm de espessura e 27 toneladas. As dimensões de prédio são sustentadas por uma ligação frágil, que um dos engenheiros responsáveis por sua montagem definiu como análoga ao equilíbrio entre duas folhas de papel postas de pé, uma encostada na outra. Criada em 1999 para atender a uma encomenda da Universidade de Uberaba/MG, ela interessou Moura ao ser deslocada para uma mostra no MUBE/SP em 2021, numa operação complexa em termos logísticos, cujos aspectos técnicos e humanos criaram uma espécie de evento em si.

Início de texto publicado no Valor Econômico, 17/2/2024. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma edição – Cartas a Theo, Vincent Van Gogh (Ed 34, 512 págs.).

Outra – Meditações, Marco Aurélio (Penguin, 208 págs.).

Uma entrevista no A Terra É Redonda – André Singer.

Um podcast – Natalie Kitroeff sobre El Salvador no The Daily.

Um disco – Mercy, John Cale.

Peguei você

Num ensaio publicado na revista The New Yorker, comentando o filme Maestro, um dos candidatos ao Oscar 2024, Richard Brody descreve um “hábito ruim” de críticos que analisam cinebiografias: buscar informações sobre a vida dos biografados para “brincar de peguei você” com omissões dos diretores. “A tentação de fazer isso responde a um sentimento – o de que muitos desses filmes deixam de fora mundo inteiros (…) que não cabem nos modelos sentimentais de Hollywood (…). Quando emoções dos personagens são perdidas, é natural procurar por fatos que justifiquem a lacuna.”

Maestro narra a vida do músico, compositor e regente norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990). Ter sido escrito, dirigido e estrelado por Bradley Cooper talvez indique um problema de origem: a tentativa de fazer caber no ego do autor do projeto a grandeza de seu personagem, com uso exibicionista de recursos – visual pirotécnico, ritmo às vezes rápido demais – que desviam a atenção do tema do filme. A questão é, e aí volto à ideia de Brody: qual é/deveria ser esse tema? A escolha de Cooper foi fazer a história girar em torno da bissexualidade de Bernstein, mantendo-a sob o âmbito de um conflito privado: o modo como o desejo do personagem interferiu em sua relação com a esposa, a atriz Felicia Montealegre (Carey Mulligan).

Diante do resultado, que considerou “oco”, Brody lembra que o filme omitiu a dimensão política que cercava esse drama. Numa única cena envolvendo o também maestro Serge Koussevitzky, e mesmo assim de forma discreta, sugere-se que a união de Bernstein com Felicia pode ter ajudado uma então incipiente carreira no ambiente homofóbico dos 1940 e 1950. Junto a episódios ausentes da trama, como intrigas que o protagonista teria feito contra um colega gay – Dimitri Mitropoulos, seu predecessor na Filarmônica de Nova York –, a questão poderia no mínimo ter dado mais relevo a essa trajetória.

Início de texto publicado no Valor Econômico, 2/2/2024. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma exposição – Histórias Indígenas, MASP.

Um ensaio – Tyler Austin Harper sobre poliamor e autoajuda (aqui).

Um filme – Sociedade da Neve, Juan Antonio Bayona.

Um filme estranho, mas bom – Pacifiction, Albert Serra.

Uma série – Feud: Capote Vs. The Swams.

Fim de semana

Um artigo – Os judeus e os direitos civis nos EUA (aqui).

Um perfil – César Aira por Alejandro Chacoff, na Piauí.

Um filme médio – Saltburn, Emerdald Fennel.

Uma série que tentei ver, mas não deu – True Detective 4.

Outra – White House Plumbers.

Fim de semana

Um filme – Folhas de Outono, Aki Kaurismäki.

Um filme meio vazio – Priscila, Sofia Coppola.

Um disco – Wall of Eyes, The Smile.

Uma série – Spade.

Um romance – A Mulher do Padre, Carol Rodrigues (Todavia, 216 págs.).

Fim de semana

Um filme – Anatomia de uma Queda, Justine Triet.

Outro – Monster, Kore-Eda Hirokazu.

Um livro de ensaios – Obra Crítica: Vol 1, Mario Pedrosa (Companhia das Letras, 594 págs.).

Um romance – Um Cão no Meio do Caminho, Isabela Figueiredo (Todavia, 218 págs.).

Um podcast – Lourenço Mutarelli na Rádio Novelo.

Fim de semana

Um ensaio – Masha Gssen sobre memória, Holocausto e Gaza (aqui).

Um romance brasileiro – Onde Pastam os Minotauros, Joca Terron (Todavia, 184 págs.).

Um disco – My Back Was a Bridge for You to Cross, Anohni and the Johsons.

Um filme – May December, Todd Haynes.

Outro – Past Lives, Celine Song.

Fim de semana

Uma série – Vale o Escrito.

Um filme médio, com momentos – Napoleão, Ridley Scott.

Um filme ruim, mas simpático – O Melhor Está por Vir, Nanni Moretti.

Um livro de poemas – Cabeça de Galinha no Chão de Cimento, Ricardo Domeneck (Ed 34, 128 págs.).

Outro – Abrir a Boca da Cobra, Sofia Mariutti (Círculo de Poemas, 74 págs.).

Fim de semana

Um podcast – Yanis Varoufakis no My Wildest Prediction.

Um documentário – The Trial of Henry Kissinger, Eugene Jarecky.

Outro – Antunes Filho – do Coração para o Olho, Cristiano Burlan.

Um filme médio – Maestro, Bradley Cooper.

Um livro de contos – Inveja e Outras Histórias, Bernardo Ajzenberg (Grua, 176 págs.)

Fim de semana

Um catálogo – Leonilson, Corpo Político (Almeida & Dale, 200 págs.).

Um ensaio – John, Julia de Souza (Âyiné, 108 págs.)

Um romance – Vinco, Manoela Sawitski (Companhia das Letras, 256 págs.).

Uma ópera no Municipal – Navio Fantasma, Wagner.

Um vídeo – Scorsese sobre Glauber Rocha (aqui).

Fim de semana

Um podcast – Israel em 1948, no The Daily.

Uma entrevista – Andrew Wylie (aqui).

Um filme bom até a metade – O Assassino, David Fincher.

Uma leitura teatral – O Dybuk, Casa do povo.

Uma montagem – Escute as Feras, Sesc Ipiranga.

Fim de semana

Uma exposição – Cao Fei, Pinacoteca.

Um livro – Ellis Island, Georges Perec (Cícrulo de Poemas, 64 págs.).

Outro – Sem Título, de Amilcar de Castro, Flavio Moura (Edusp, 76 págs.).

Uma reprise – Di Cavalcanti, Glauber Rocha (aqui).

Um disco – Lusco-Fusco, Assucena.

Fim de semana

Uma reportagem – David Remnick sobre Israel e Gaza (aqui).

Um texto de antes da guerra – Peter Pál Pelbart sobre ser judeu no Brasil (aqui).

Um livro – A Nudez da Cópia Imperfeita, Wagner Schwartz (Nós, 336 págs.).

Um livro de poesia – Uma Volta pela Lagoa, Juliana Krapp (Círculo de Poemas, 104 págs.)

Um filme – Assassinos da Lua das Flores, Martin Scorsese.

Fim de semana

Um romance – O Deserto e sua Semente, Jorge Baron Biza (Companhia das Letras, 232 págs.).

Um filme – The Pigeon Tunnel, Errol Morris.

Uma série sobre a Argentina – Dezembro de 2001.

Uma peça em SP – Selvagem, dir. Susana Ribeiro.

Uma exposição no Rio – Angelo Venosa, Casa Roberto Marinho.

Fim de semana

Um livro de poesia – Jardim Botânico, Nuno Ramos (Todavia, 87 págs.).

Um livro sobre escrita – O Lugar das Palavras, Vanessa Ferrari (Moinhos, 102 págs.).

Outro – Escrita em Movimento, Noemi Jaffe (Companhia das Letras, 190 págs.).

Um filme – Worth, Sara Colangelo.

Uma entrevista – Bruno Paes Manso no Ilustríssima Conversa.

Fim de semana

Um filme – Marinheiro das Montanhas, Karim Aïnouz.

Um texto – Daniel Galera sobre um cachorro (aqui).

Uma exposição – Talita Hoffmann, 25M.

Uma entrevista no ABFP – Ritchie.

Outra – Bia Abramo.

Fim de semana

Um filme – Retratos Fantasmas, Kleber Mendonça.

Uma entrevista – Luis Suarez à ESPN (aqui).

Um ensaio – Justin E.H. Smith sobre gerações na Harper’s (aqui).

Uma exposição – Gregório Gruber na São Paulo Flutuante.

Outra – Newton Santanna e outros na Gentil Carioca.

Fim de semana

Uma edição – Poesia Reunida, Sylvia Plath (Companhia das Letras, 512 págs.).

Um ensaio – Eu, Minhas Convicções E Um Moleque Preto Com Um Revólver Na Mão, Evandro Cruz Silva, Serrote.

Um documentário – Joan Didion: The Center Will Not Hold, Griffin Dune.

Uma série que vale pelo tema – The Days, Jun Masumoto.

Uma exposição – Flieg, IMS.

Fim de semana

            Um ensaio – Natalia Carillo e Pau Luque sobre hipocondria moral na Serrote.

            Um livro –Veludo Rouco, Bruna Beber (Companhia das Letras, 100 págs.).

            Um podcast – Collor versus Collor, Évelin Argenta.

            Um documentário – Wham!, Chris Smith.

            Um filme de 2007 – Margot e o Casamento, Noah Baumbach.

Formas do inferno

(…)

Ao reler A Idade Viril, me pergunto se ainda há lugar para o individualismo radical de sua abordagem. A ortodoxia de 2023 não é apenas uma restrição autoritária: ela também serviu para dar sentido coletivo ao relato autobiográfico, fazendo a dimensão pessoal dialogar com lutas emancipatórias de raça, gênero, classe. Como sempre em literatura, depende de como se faz. Nos piores casos, o autor que acusa a si mesmo deu lugar ao advogado de defesa das próprias virtudes, pegando carona na causa simpática do momento. Nos melhores, houve uma abertura de perspectiva, em que o ponto de partida da escrita deixa de ser o marco psicanalítico sem contexto para ganhar força política.

Exemplo notável são os romances memorialísticos do também francês Édouard Louis, que acabam de ganhar duas edições pela Todavia. Tanto em Quem Matou meu Pai (2018, 72 págs.) quanto em Lutas e Metamorfoses de uma mulher (2021, 112 págs.), ambos com tradução de Marilia Scalzo, o autor faz uma operação inversa à de Leiris. Enquanto A Idade Viril não olha muito para a história de sua época – a Primeira Guerra é apenas um tempo de surprise-parties, e o nazismo não é nem citado –, Lewis submete ao entorno social qualquer especulação sobre a própria identidade.

Trecho de texto sobre as memórias de Michel Leiris e Édouard Louis, publicado no Valor Econômico, 11/8/23. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma exposição – Retratistas do Morro, Sesc Pinheiros.

Um podcast – Lugar de Sonho, Nando Reis.

Um texto – Ian Bogost sobre o Twitter (aqui).

Um livro de Edward Louis – Quem Matou Meu Pai  (Todavia, 72 págs.).

Outro – Lutas e Metamorfoses de Uma Mulher (Todavia, 112 págs.).

Na trilha de Dioniso

Não sei se a alegria é uma questão de escolha, mas é certo que pode ser uma questão política. Num Roda Viva de 1988, o diretor e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa respondeu a perguntas sobre uma suposta inconfiabilidade sua ao lidar com orçamentos, sobre os trabalhos que (não) tinha feito nos anos anteriores. Então apelidado de “decano do ócio”, e ainda no início da longa luta para defender a existência do Teatro Oficina – algo que durou até sua morte, no início deste mês, e não parece ter data para terminar –, ele ouviu de um dos entrevistadores a advertência de que era preciso ser realista ao propor projetos sem retorno financeiro aparente.

“Nenhum empresário ou governo sério vai ter coragem de botar dinheiro na sua mão”, disse o jornalista e editor Luiz Fernando Emediato. Ele se referia aos custos para montar As Bacantes, de Eurípedes, e construir o que é o atual prédio do Oficina. Zé Celso respondeu: “Você está encarnando o antagonista mais forte [das Bacantes], o personagem do Penteu. Que coisa bonita, teatralmente (…). Aqui é o palco do mundo. Chegamos exatamente no ponto. Ou o Brasil vai para o teu caminho, a tua imediatice, ou para um outro lado. E o outro lado traz prosperidade, riqueza”.

Emediato trabalhava no SBT, de Silvio Santos, dono do terreno que Zé Celso queria transformar numa extensão do Oficina (mais tarde ele passou a defender um parque no local). O diretor não via interesses opostos no conflito, já que a cultura também gera receita e empregos. Nesse sentido, o plano era deslocar a dramaturgia televisiva brasileira do Rio para São Paulo, trocando o modelo da Globo por um mais aberto, que fundiria a inovação do melhor teatro paulistano com a tecnologia de uma emissora ligada ao imaginário popular.

Mas a discussão no Roda Viva era mais ampla que isso, e vista hoje soa como premonitória. Em 1988, num mundo que vivia os estertores da Guerra Fria, o que influenciava o início da redemocratização brasileira, o modelo liberal do “possível” estava prestes a se tornar hegemônico. Zé Celso viveu pregando o contrário: a liberdade de primeiro imaginar o ideal, para só depois adaptar a ele as contingências práticas. Parece simples, mas é a coisa mais difícil de fazer quando a vida está submetida a uma lógica de eficácia, onde os valores de troca e uso se impõem sob uma capa de fatalismo cultural.

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 28/7/23. Íntegra aqui.

Fim de semana

Um perfil – Larry Gagosian e o mercado da arte (aqui).

Uma entrevista – Roberto Andrés sobre 2013 (aqui).

Um livro de poemas – Expedição: Nebulosa, Marilia Garcia (Companhia das Letras, 112 págs.).

Uma exposição – Mulheres no CCSP.

Um filme – Oppenheimer, Christopher Nolan.

Fim de semana

Uma entrevista – Zé Celso no Roda Viva, 1988 (aqui).

Um texto – Thalia Vacha sobre Thomas Bernhard (aqui).

Um filme – Antena da Raça, Paloma Rocha e Luís Abramo.

Uma exposição – Antonio Obá, Pinacoteca.

Uma aula/show – João Gilberto por Arthur Nestrovski e Celso Sim.

Fim de semana

Uma exposição no MASP – Gauguin.

Outra – Sheroanawe Hakihiiwe.

Um filme – Siberia, Abel Ferrara.

Uma última entrevista – Zé Celso a Claudio Leal (aqui).

Uma HQ – Gênero Queer, Maia Kobabe (Tinta da China, 240 págs.).

Fim de semana

Uma exposição no IMS – Helena Almeida.

Outra – Iole de Freitas.

Um romance brasileiro – O crime do bom nazista, Samir Machado de Machado (Todavia, 128 págs.)

Outro – Vale o que tá escrito, Dan (DBA, 224 págs.).

Uma montagem no Oficina – Mutação de Apoteose, dir. Camila Mota.

Fim de semana

Uma série documental – History of Now, Simon Schama.

Um documentário – Natural History of Destruction, Sergei Losnitza.

Um filme meio safado – Air, Ben Affleck.

Uma conversa – Sofia Nestrovski e Rodrigo Lacerda sobre Shakespeare, 451 MHz.

Um disco – Voice Notes, Yazmin Lacey.