Michel Laub

Mês: março, 2024

Passeio com o gigante – lançamento

Meu novo romance, Passeio com o Gigante, da Companhia das Letras, já está nas livrarias e plataformas. O lançamento em São Paulo será na quarta, 3/4, às 19h, na livraria Megafauna. Haverá uma conversa com Maria Emilia Bender e sessão de autógrafos. Texto de divulgação do livro:

Davi Rieseman, um advogado ligado à causa sionista, sobe a um palco para dar um discurso. Misturando intolerância e generosidade, ele conta a história de sua relação com o sogro, a mãe, a esposa e a filha à luz de juízos bastante particulares sobre temas do noticiário ― uma eleição no Brasil, a ascensão evangélica, o antissemitismo, o Oriente Médio.

Anos depois, enquanto caminha por um hospital onde fantasia e realidade se misturam, com as palavras do passado surgindo em fragmentos que iluminam a ação presente, Davi é confrontado por um misterioso coro de vozes, num diálogo que o faz reviver um trauma e um dilema ligados a brigas envolvendo judeus seculares e religiosos, progressistas e conservadores, embebidos na cultura diaspórica da dúvida e nas convicções militaristas da política israelense.

A ironia do romance, com seu choque de visões construído em diferentes vozes, tempos e tons, guia uma tentativa humanista de lidar com um cenário pós-pandemia, em que a memória dos mortos deu lugar ao pragmatismo cínico e às guerras. É um caminho tortuoso, mas também feito de esperança. Afinal, entre “palavras de choro ou riso”, o mundo surgido no desfecho do livro é aquele onde precisaremos viver todos ― culpados ou inocentes nesse grande acerto de contas com a história.

“Michel Laub nos apresenta um anti-herói que vende a alma em troca de um gostinho de poder. É um livro de uma atualidade que incomoda, que nos ajuda a ver o presente, e que mostra o penoso caminho até o futuro: até a compreensão, e até, quem sabe, o perdão.” ― Benjamin Moser, autor de Clarice, e Sontag

“Michel Laub mostra, em sua obra, uma impressionante capacidade de transformar discursos odiosos em personagens complexas. Se isso era visível em romances como Solução de dois estados , neste Passeio com o gigante seus efeitos se expandem e fazem com que o leitor se perceba, ele também, no centro da trama. Nossas certezas e nossas emoções são manipuladas pelo arrivista Davi Rieseman, ideólogo sionista e financiador da extrema-direita no Brasil. Mais que discurso, mais que personagem, ele é também espelho, que reflete nossos próprios mecanismos de adesão e repulsa, sem permitir que a imagem se fixe.” ― Regina Dalcastagnè, professora de literatura brasileira da Universidade de Brasília, coordena o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea

Fim de semana

Um livro – São Paulo nas Alturas, Raul Juste Lores (Companhia das
Letras, 352 págs.).

Uma reprise – São Paulo S.A., Luís Sergio Person.

Um depoimento – Júlio Bressane (aqui).

Um filme – A Pior Pessoa do Mundo, Joachim Trier.

Um podcast – Autoritários, Ana Luiza Albuquerque (Folha).

Fim de semana

Um texto – Zadie Smith sobre a adolescência, Quatro Cinco Um.

Um episódio no História FM – Império Inca.

Outro – Apartheid.

Um romance – Contra Fogo, Pablo Casella (Todavia, 320 págs.).

Um filme – American Fiction, Cord Jefferson.

Fim de semana

Um museu em Lima – Larco.

Outro – Mali.

Uma antologia – Trajetória Crítica, Jean-Claude Bernardet (Martins Fontes, 342 págs.).

Um relato Dezessete anos, Colombe Schneck (Relicário, 80 págs.).

Um filme com momentos – Dias Perfeitos, Wim Wenders.

Elegância deslocada

A primeira qualidade de um texto sobre artes visuais, e perdão por dizer o óbvio, é saber ver o seu objeto. Um pequeno livro do editor Flávio Moura, que gira em torno de uma escultura do artista mineiro Amilcar de Castro (1920-2002), começa a mostrar isso ao falar de um corte em diagonal que atravessa uma chapa de aço retangular. Unida pela parte de cima, a peça é dobrada e forma duas hastes “quase triangulares e longilíneas”, apoiadas no piso “de forma transversal” e tendo “um vão igualmente triangular entre elas”.

O nome do livro é o nome peça, Sem Título, de Amilcar de Castro (Edusp, coleção Prismas, 76 págs.). Embora se aprofunde em temas estéticos, reproduzindo debates que vêm da época do neoconcretismo brasileiro, Moura nunca perde de vista a solidez do vocabulário descritivo, vindo de disciplinas como a geometria e a engenharia. É dessa planície clara que enxergamos os picos às vezes abstratos do pensamento crítico: há um complemento entre as interpretações de nomes como Rodrigo Naves, Luiz Renato Martins e Ronaldo Brito, com suas imagens que explicam as relações entre plano e volume, peso e leveza, tempo e matéria na obra de Amilcar (“forma difícil”, “premissa tectônica”, “gravidade ética do movimento”), e a citação de guindastes, caçambas, maçaricos, pontos de solda.

Falar sobre Sem Título é, antes de tudo, discorrer sobre uma imposição física. A peça tem 16m de altura, 4m de largura, 5 cm de espessura e 27 toneladas. As dimensões de prédio são sustentadas por uma ligação frágil, que um dos engenheiros responsáveis por sua montagem definiu como análoga ao equilíbrio entre duas folhas de papel postas de pé, uma encostada na outra. Criada em 1999 para atender a uma encomenda da Universidade de Uberaba/MG, ela interessou Moura ao ser deslocada para uma mostra no MUBE/SP em 2021, numa operação complexa em termos logísticos, cujos aspectos técnicos e humanos criaram uma espécie de evento em si.

Início de texto publicado no Valor Econômico, 17/2/2024. Íntegra aqui.

Fim de semana

Um filme – Heart of a Dog, Laurie Anderson.

Um doc simpático – Hipgnosis, Anton Corbijn.

Outro – A Noite que Mudou o Pop, Bao Nguyen.

Um depoimento – Guilherme Arantes no Papo com Clê (aqui).

Um livro – Wet Mácula, Jean-Claude Bernardet e Sabina Anzuategui (Companhia das Letras, 159 págs.).