Michel Laub

Categoria: Cinema

Fim de semana

Um livro – São Paulo nas Alturas, Raul Juste Lores (Companhia das
Letras, 352 págs.).

Uma reprise – São Paulo S.A., Luís Sergio Person.

Um depoimento – Júlio Bressane (aqui).

Um filme – A Pior Pessoa do Mundo, Joachim Trier.

Um podcast – Autoritários, Ana Luiza Albuquerque (Folha).

Fim de semana

Um museu em Lima – Larco.

Outro – Mali.

Uma antologia – Trajetória Crítica, Jean-Claude Bernardet (Martins Fontes, 342 págs.).

Um relato Dezessete anos, Colombe Schneck (Relicário, 80 págs.).

Um filme com momentos – Dias Perfeitos, Wim Wenders.

Fim de semana

Um filme – Heart of a Dog, Laurie Anderson.

Um doc simpático – Hipgnosis, Anton Corbijn.

Outro – A Noite que Mudou o Pop, Bao Nguyen.

Um depoimento – Guilherme Arantes no Papo com Clê (aqui).

Um livro – Wet Mácula, Jean-Claude Bernardet e Sabina Anzuategui (Companhia das Letras, 159 págs.).

Peguei você

Num ensaio publicado na revista The New Yorker, comentando o filme Maestro, um dos candidatos ao Oscar 2024, Richard Brody descreve um “hábito ruim” de críticos que analisam cinebiografias: buscar informações sobre a vida dos biografados para “brincar de peguei você” com omissões dos diretores. “A tentação de fazer isso responde a um sentimento – o de que muitos desses filmes deixam de fora mundo inteiros (…) que não cabem nos modelos sentimentais de Hollywood (…). Quando emoções dos personagens são perdidas, é natural procurar por fatos que justifiquem a lacuna.”

Maestro narra a vida do músico, compositor e regente norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990). Ter sido escrito, dirigido e estrelado por Bradley Cooper talvez indique um problema de origem: a tentativa de fazer caber no ego do autor do projeto a grandeza de seu personagem, com uso exibicionista de recursos – visual pirotécnico, ritmo às vezes rápido demais – que desviam a atenção do tema do filme. A questão é, e aí volto à ideia de Brody: qual é/deveria ser esse tema? A escolha de Cooper foi fazer a história girar em torno da bissexualidade de Bernstein, mantendo-a sob o âmbito de um conflito privado: o modo como o desejo do personagem interferiu em sua relação com a esposa, a atriz Felicia Montealegre (Carey Mulligan).

Diante do resultado, que considerou “oco”, Brody lembra que o filme omitiu a dimensão política que cercava esse drama. Numa única cena envolvendo o também maestro Serge Koussevitzky, e mesmo assim de forma discreta, sugere-se que a união de Bernstein com Felicia pode ter ajudado uma então incipiente carreira no ambiente homofóbico dos 1940 e 1950. Junto a episódios ausentes da trama, como intrigas que o protagonista teria feito contra um colega gay – Dimitri Mitropoulos, seu predecessor na Filarmônica de Nova York –, a questão poderia no mínimo ter dado mais relevo a essa trajetória.

Início de texto publicado no Valor Econômico, 2/2/2024. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma exposição – Histórias Indígenas, MASP.

Um ensaio – Tyler Austin Harper sobre poliamor e autoajuda (aqui).

Um filme – Sociedade da Neve, Juan Antonio Bayona.

Um filme estranho, mas bom – Pacifiction, Albert Serra.

Uma série – Feud: Capote Vs. The Swams.

Fim de semana

Um artigo – Os judeus e os direitos civis nos EUA (aqui).

Um perfil – César Aira por Alejandro Chacoff, na Piauí.

Um filme médio – Saltburn, Emerdald Fennel.

Uma série que tentei ver, mas não deu – True Detective 4.

Outra – White House Plumbers.

Fim de semana

Um filme – Folhas de Outono, Aki Kaurismäki.

Um filme meio vazio – Priscila, Sofia Coppola.

Um disco – Wall of Eyes, The Smile.

Uma série – Spade.

Um romance – A Mulher do Padre, Carol Rodrigues (Todavia, 216 págs.).

Fim de semana

Um filme – Anatomia de uma Queda, Justine Triet.

Outro – Monster, Kore-Eda Hirokazu.

Um livro de ensaios – Obra Crítica: Vol 1, Mario Pedrosa (Companhia das Letras, 594 págs.).

Um romance – Um Cão no Meio do Caminho, Isabela Figueiredo (Todavia, 218 págs.).

Um podcast – Lourenço Mutarelli na Rádio Novelo.

Fim de semana

Um ensaio – Masha Gssen sobre memória, Holocausto e Gaza (aqui).

Um romance brasileiro – Onde Pastam os Minotauros, Joca Terron (Todavia, 184 págs.).

Um disco – My Back Was a Bridge for You to Cross, Anohni and the Johsons.

Um filme – May December, Todd Haynes.

Outro – Past Lives, Celine Song.

Fim de semana

Uma série – Vale o Escrito.

Um filme médio, com momentos – Napoleão, Ridley Scott.

Um filme ruim, mas simpático – O Melhor Está por Vir, Nanni Moretti.

Um livro de poemas – Cabeça de Galinha no Chão de Cimento, Ricardo Domeneck (Ed 34, 128 págs.).

Outro – Abrir a Boca da Cobra, Sofia Mariutti (Círculo de Poemas, 74 págs.).

Fim de semana

Um podcast – Yanis Varoufakis no My Wildest Prediction.

Um documentário – The Trial of Henry Kissinger, Eugene Jarecky.

Outro – Antunes Filho – do Coração para o Olho, Cristiano Burlan.

Um filme médio – Maestro, Bradley Cooper.

Um livro de contos – Inveja e Outras Histórias, Bernardo Ajzenberg (Grua, 176 págs.)

Réquiem político

Quando estreou O Irlandês, de Martin Scorsese, em 2019, houve muitos comentários sobre o rejuvenescimento meio caricato que os efeitos especiais deram a Joe Pesci e Robert De Niro, atores que voltavam a trabalhar com o cineasta quase 30 anos depois de Os Bons Companheiros e Cassino. Também se falou do desempenho não muito convincente de Al Pacino. Também da pertinência de uma história escrita, dirigida e estrelada por homens, num tempo em que o universo masculino tinha virado um sinal político obsoleto, quando não reacionário.

Tudo verdade, e tudo fatal para o resultado se estivéssemos diante de uma escola de samba, com a média das notas determinando a sorte de um desfile na Sapucaí. É assim que certa crítica de cinema atua: separando os filmes em itens e julgando-os segundo uma suposta objetividade técnica – que, na maioria das vezes, é apenas expressão beletrista de uma visão de mundo filisteia. Dela fazem parte um juízo literal de verossimilhança (na vida real é assim ou não é), uma atribuição narcisista de valor (me identifiquei com os personagens ou não), uma leitura política rasa (a partir de lacração em diálogos, por exemplo).

Uma obra narrativa é feita de partes, mas é mais que isso. Se o discurso estético conseguir ter força autônoma, as eventuais falhas podem ser incorporadas como estilo – compondo uma originalidade que paira acima da eventual competência técnica, às vezes a desmentindo. É o que acontece com O irlandês, um triunfo imenso da fase madura de Scorsese, que serve como réquiem para certo cinema grandioso, aqui subvertido pelo que a obra do diretor sempre fez: usar determinadas convenções (como a do filme de máfia) como base material para um discurso metafísico (de referência cristã) sobre a morte (de pessoas, dos mundos que elas criaram ou habitaram).

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 17/11/23, sobre Assassinos da Lua das Flores e a obra de Scorsese. Íntegra aqui.

Fim de semana

Um catálogo – Leonilson, Corpo Político (Almeida & Dale, 200 págs.).

Um ensaio – John, Julia de Souza (Âyiné, 108 págs.)

Um romance – Vinco, Manoela Sawitski (Companhia das Letras, 256 págs.).

Uma ópera no Municipal – Navio Fantasma, Wagner.

Um vídeo – Scorsese sobre Glauber Rocha (aqui).

Fim de semana

Um podcast – Israel em 1948, no The Daily.

Uma entrevista – Andrew Wylie (aqui).

Um filme bom até a metade – O Assassino, David Fincher.

Uma leitura teatral – O Dybuk, Casa do povo.

Uma montagem – Escute as Feras, Sesc Ipiranga.

Fim de semana

Uma exposição – Cao Fei, Pinacoteca.

Um livro – Ellis Island, Georges Perec (Cícrulo de Poemas, 64 págs.).

Outro – Sem Título, de Amilcar de Castro, Flavio Moura (Edusp, 76 págs.).

Uma reprise – Di Cavalcanti, Glauber Rocha (aqui).

Um disco – Lusco-Fusco, Assucena.

Fim de semana

Uma reportagem – David Remnick sobre Israel e Gaza (aqui).

Um texto de antes da guerra – Peter Pál Pelbart sobre ser judeu no Brasil (aqui).

Um livro – A Nudez da Cópia Imperfeita, Wagner Schwartz (Nós, 336 págs.).

Um livro de poesia – Uma Volta pela Lagoa, Juliana Krapp (Círculo de Poemas, 104 págs.)

Um filme – Assassinos da Lua das Flores, Martin Scorsese.

Fim de semana

Um romance – O Deserto e sua Semente, Jorge Baron Biza (Companhia das Letras, 232 págs.).

Um filme – The Pigeon Tunnel, Errol Morris.

Uma série sobre a Argentina – Dezembro de 2001.

Uma peça em SP – Selvagem, dir. Susana Ribeiro.

Uma exposição no Rio – Angelo Venosa, Casa Roberto Marinho.

Fim de semana

Um livro de poesia – Jardim Botânico, Nuno Ramos (Todavia, 87 págs.).

Um livro sobre escrita – O Lugar das Palavras, Vanessa Ferrari (Moinhos, 102 págs.).

Outro – Escrita em Movimento, Noemi Jaffe (Companhia das Letras, 190 págs.).

Um filme – Worth, Sara Colangelo.

Uma entrevista – Bruno Paes Manso no Ilustríssima Conversa.

Fim de semana

Um filme – Marinheiro das Montanhas, Karim Aïnouz.

Um texto – Daniel Galera sobre um cachorro (aqui).

Uma exposição – Talita Hoffmann, 25M.

Uma entrevista no ABFP – Ritchie.

Outra – Bia Abramo.

Fim de semana

Um filme – Retratos Fantasmas, Kleber Mendonça.

Uma entrevista – Luis Suarez à ESPN (aqui).

Um ensaio – Justin E.H. Smith sobre gerações na Harper’s (aqui).

Uma exposição – Gregório Gruber na São Paulo Flutuante.

Outra – Newton Santanna e outros na Gentil Carioca.

Fim de semana

Uma edição – Poesia Reunida, Sylvia Plath (Companhia das Letras, 512 págs.).

Um ensaio – Eu, Minhas Convicções E Um Moleque Preto Com Um Revólver Na Mão, Evandro Cruz Silva, Serrote.

Um documentário – Joan Didion: The Center Will Not Hold, Griffin Dune.

Uma série que vale pelo tema – The Days, Jun Masumoto.

Uma exposição – Flieg, IMS.

Fim de semana

            Um ensaio – Natalia Carillo e Pau Luque sobre hipocondria moral na Serrote.

            Um livro –Veludo Rouco, Bruna Beber (Companhia das Letras, 100 págs.).

            Um podcast – Collor versus Collor, Évelin Argenta.

            Um documentário – Wham!, Chris Smith.

            Um filme de 2007 – Margot e o Casamento, Noah Baumbach.

Fim de semana

Um perfil – Larry Gagosian e o mercado da arte (aqui).

Uma entrevista – Roberto Andrés sobre 2013 (aqui).

Um livro de poemas – Expedição: Nebulosa, Marilia Garcia (Companhia das Letras, 112 págs.).

Uma exposição – Mulheres no CCSP.

Um filme – Oppenheimer, Christopher Nolan.

Fim de semana

Uma entrevista – Zé Celso no Roda Viva, 1988 (aqui).

Um texto – Thalia Vacha sobre Thomas Bernhard (aqui).

Um filme – Antena da Raça, Paloma Rocha e Luís Abramo.

Uma exposição – Antonio Obá, Pinacoteca.

Uma aula/show – João Gilberto por Arthur Nestrovski e Celso Sim.

Fim de semana

Uma série documental – History of Now, Simon Schama.

Um documentário – Natural History of Destruction, Sergei Losnitza.

Um filme meio safado – Air, Ben Affleck.

Uma conversa – Sofia Nestrovski e Rodrigo Lacerda sobre Shakespeare, 451 MHz.

Um disco – Voice Notes, Yazmin Lacey.

Luz possível

A primeira vez que estive Nova York foi em 1987, e uma lembrança nítida daquela viagem é o aspecto dos vagões no metrô. No período entre a recessão dos 1970 e a política higienista dos anos Giuliani, eles tinham as mesmas pichações que aparecem no filme que assombrou minha adolescência: Warriors (1979), de Walter Hill. Baseado num romance de Sol Yurick, com referências que vão do Kraftewerk a Laranja Mecânica, o enredo fala de uma gangue de Coney Island que atravessa Brooklyn e Manhattan para uma convenção de seus pares no Bronx. Um crime ocorre, os protagonistas são acusados injustamente, então é preciso fazer os 48 quilômetros de volta brigando com delinquentes vestidos de palhaços, dândis, jogadores de beisebol.

Warriors é um filme premonitório, ou influente em sua forma de adaptar à linguagem da época motivos clássicos da distopia urbana. A narrativa com estrutura de videogame, por exemplo, em que obstáculos/inimigos vão sendo vencidos um a um, com perda de vidas pelo caminho, é ligada a certo imaginário masculino – o público majoritário de jogos desde sempre – muito poderoso na cultura de hoje. O mesmo ocorre como o discurso de fundo da trama: um voluntarismo antissistema no qual gangues buscam um poder paralelo ao da polícia e da justiça, enquanto o Estado se degrada por omissão ou má fé.

Passo uns dias em Nova York para comemorar meus 50 anos. No tipo de reflexão que datas assim proporcionam, digo que há muito perdi a ilusão de que a grande história anda rumo às luzes, com as lições negativas do passado se comunicando com atos virtuosos do presente. Em certo sentido, os heróis de Warriors chegaram ao poder, mesmo que os vagões do metrô na Nova York de 2023 sejam limpos, com bandeiras do Estado norte-americano ao lado das portas de entrada. A rebeldia dos personagens do filme contra a autoridade institucional não era emancipatória, digamos, e hoje pode ser vista em todo tipo de fantasia miliciana/fascistóide. E o sentimento tribal que move o enredo, agora chamado de identitário, entrou para o mainstream eleitoral em sua versão mais bruta, virulenta e branca. 

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 20/5/2023. Íntegra aqui.

Fim de semana

Um filme – Turn Every Page, Lizzie Gottlieb

Uma série que é melhor não ver – Voo 37: o Avião que Desapareceu.

Uma peça – Pagu, Martha Nowill.

Um texto na Piauí – Olavo Amaral sobre Inteligência Artificial.

Outro – João Batista Jr sobre chemsex.

Fim de semana

Um ensaio – Olga Tokarczuk sobre narradores sensíveis (em Escrever é Muito Perigoso, Todavia, 264 págs.).

Outro – Juliana Cunha sobre perigos da leitura (aqui).

Um terceiro – Stephen Marche sobre escritores e fracasso (aqui)

Um curso – José Miguel Wisnik sobre contos morais.

Um filme simpático – The Man who Saved the Game, Austin e Meredith Bragg.

Fim de semana

Um filme – All the Beauty and the bloodshed, Laura Poitras.

Um podcast – Rio Memórias.

Um livro de fotografia – Atlas, Gerhard Richter (dap, 862 págs.).

Um livro de contos – Filho de Jesus, Denis Johnson (Todavia, 112 págs.).

Um texto – Daniel Galera sobre Denis Johnson e reconciliação (aqui).

Fim de semana

Uma exposição – Marc Chagall, CCBB.

Um disco – This is Why, Paramore.

Um filme ruim – A Baleia, Darren Aronofsky.

Um artigo – O NYT, a aids e a transfobia (aqui).

Um livro – Poder Camuflado, Fabio Victor (Companhia das Letras, 446 págs.).