Craigg Murray em Diplomacia suja (Companhia das Letras, 485 págs.), seu livro de memórias:
“Era um cardápio de pelúcia, com capas de couro verde e uma corda dourada envolvendo a lombada. Havia oito entradas e pratos principais, divididos entre a culinária uzbeque e a europeia (…). A moça voltou para perguntar o que queríamos, mas percebi que ela não tinha nada para tomar nota (…). Fiz todos os pedidos (…). Quando terminei, ela continuou em pé, sem jeito, apoiando-se ora numa perna ora noutra, como se precisasse ir ao banheiro.
‘Ah, temos o peixe’, disse ela.
‘Perdão’
‘O peixe nós temos’, disse ela, talvez preocupada com a ordem das palavras.
‘Você quer dizer que não tem as outras coisas?’
De novo aquele olhar de alívio que ela conseguira transmitir.
‘Mas temos o peixe’.
Olhei para o meu pessoal, que sorria abertamente, menos Fiona, que parecia aborrecida.
‘Está bem, pode pedir quatro peixes.’
‘Três peixes’, respondeu ela.
‘Desculpe’, disse eu, como fazem os britânicos quando há um problema que não é de nossa responsabilidade, ‘são quatro peixes’. Fiz um gesto mostrando que éramos quatro.
‘Temos três peixes’, repetiu ela.
‘Somos quatro’, comentei. ‘O que mais você tem?’
Ela olhou em torno, lançando olhares rápidos, como se buscasse um jeito de escapar. Depois se recompôs, com outro sorriso de alívio.
‘Sanduíche’, disse ela, pronunciando a palavra com cuidado.
Aquilo era melhor. Talvez os meninos preferissem um sanduíche a um peixe indefinido.
‘Que sanduíches você tem?”
‘Peixe’, respondeu ela. ‘Sanduíche de peixe.’
Resolvemos pedir três pratos de peixe e um sanduíche de peixe. Dei outra olhada no cardápio. Não havia peixe nenhum, além de cavala defumada com alface, como entrada. Ficamos imaginando o que viria. Fiona apertou meu braço e sorriu. ‘E isto é primeira classe! Será que só tem três peixes para alimentar todo o avião?’
‘Jesus conseguiu’, comentou Jamie.”
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