Houellebecq, estômago e submissão
Em 1998, o filme “Nova York sitiada” antecipou parte do que aconteceria com o mundo a partir de 2001: 1) novo e descentralizado tipo de jihadismo, treinado pela CIA em sua origem, causa grande tragédia numa metrópole americana; 2) em pânico justificado, cidadãos exigem reação do governo; 3) Opta-se pelo caminho militar/policialesco, que estimula a intolerância étnica/religiosa e avança sobre direitos civis.
Tanta acuidade histórica, no entanto, não gerou uma obra esteticamente relevante. Talvez porque as boas ideias do roteiro, escrito pelo prêmio Pulitzer Lawrence Wright, precisassem ser traduzidas pelo esquematismo hollywoodiano de Bruce Willis e companhia. Uma coisa é o que se diz, outra é como se diz. Embora as duas dimensões se misturem em algum nível na arte, é na segunda que está a possibilidade de transcender o que já se sabe assistindo ao noticiário ou lendo os especialistas.
Publicado na Folha de S.Paulo, 24/4/15. Íntegra aqui.