Michel Laub

Mês: março, 2011

Uma longa caminhada e um longo choro

Sequência de Vive l’amour, de Tsai Ming-Liang, 1994:

Egopress

– O lançamento de Diário da queda em SP será amanhã, terça (29/3), às 19h, na Livraria Cultura/loja da Companhia das Letras do Conjunto Nacional. E segue na Mercearia São Pedro (Rodésia, 34) a partir de 22h.

– Na quarta, 30/3, 19h, participo de um debate com alunos de pós-graduação do Instituto Vera Cruz, também em São Paulo.

– A partir de 14/4 inicio uma oficina de ficção no Espaço B_arco. Mais informações aqui.

‘Diário da queda’ – resenhas, matérias, entrevistas

– Entrevista na Deutsche Welle (Alemanha): http://migre.me/gkJJk

– Entrevista no Público (Portugal), por Isabel Coutinho: http://goo.gl/R7E3kz

– Entrevista na Rádio Universitária do Minho, Portugal: http://goo.gl/1cE64n

– Entrevista na RTP (Portugal): http://goo.gl/tAYkdp

– Entrevista na rádio CBC, Canadá (a 32’33): http://goo.gl/ftWiBa

– Debate com Javier Cercas no Festival de Edimburgo: http://goo.gl/5a9GRP

– Entrevista à SVT (Suécia): http://www.svt.se/kultur/laub

– Entrevista na NRT (Noruega): http://goo.gl/10HIi6

– Entrevista no CCLJ (França): http://goo.gl/CYnOqP

– Entrevista no blog da Random House/Vintage: http://goo.gl/jupU3d

– Entrevista na ZDF TV (Alemanha): http://goo.gl/pI4QeD

– Entrevista no Espaço Aberto (Globo News), por Edney Silvestre: http://goo.gl/7sDmK

– Entrevista no Metrópolis (TV Cultura), por Cadão Volpato: http://bit.ly/m0qPdy

– Entrevista no Entrelinhas (TV Cultura), por Manuel da Costa Pinto: http://bit.ly/kDzQp8

– Entrevista na Univesp TV, por Ederson Granetto: http://goo.gl/pF6wU

– Entrevista no Imagem da Palavra (Rede Minas), por Guga Barros: http://goo.gl/iiKh2y

– Matéria/entrevista na Folha de SP, por Guilherme Brendler: http://migre.me/45ljh

– Matéria/entrevista no Estadão, por Raquel Cozer: http://tinyurl.com/5taqtbu

– Matéria/entrevista no Valor Econômico, por José Castello: http://migre.me/9dW7E

– Entrevista no Rascunho, por Rogério Pereira: http://migre.me/4pDnp

– Entrevista no Suplemento Pernambuco, por Talles Colatino: http://bit.ly/mcUGjI

– Entrevista no Portal Literal, por Bolívar Torres: http://bit.ly/gNspbN

– Entrevista na Zero Hora, por Carlos André Moreira: http://migre.me/45lrp

– Entrevista no Candido, por Guilherme Sobota: http://goo.gl/RrFwtd

– Entrevista na Rádio Senado, por Margarida Patriota: http://bit.ly/jOyhBi

– Matéria/entrevista no Correio Braziliense, por Nahima Maciel: http://bit.ly/eQGDf3

– Entrevista no blog de Mona Dorf: http://bit.ly/qfK8zE

– Resenha na Veja Online (todoprosa), por Sérgio Rodrigues: http://tinyurl.com/48wltge

– Resenha no Globo, por Stefania Chiarelli: http://bit.ly/dZqLsz

– Resenha na Folha de SP, por Paulo Werneck: http://migre.me/45lin.

– Resenha na Folha de Pernambuco, por Talles Colatino: http://tinyurl.com/4yg5xa6

– Resenha no Monte de Leituras, por Alfredo Monte: http://goo.gl/gHgEk

– Resenha no Sul 21, por Marcelo Carneiro da Cunha: http://goo.gl/IX5D6

– Resenha no Rascunho, por Luís Paulo Faccioli: http://migre.me/4pXrX

– Resenha no Posfácio, por Felipe Cordeiro: http://goo.gl/RV6flE

– Resenha no Meia Palavra, por Taizze Odelli: http://goo.gl/5gAuC

– Resenha no Previsível, por Felipe Moraes: http://bit.ly/dVaqPP

– Resenha no Espanador, por Juliana Leuenroth: http://bit.ly/huwL8y

– Resenha no Posfácio, por Isadora Sinay: migre.me/hNIfx

– Resenha no Estudos Lusófonos, por Carine Figueira: http://goo.gl/luCUV1

– Resenha no Colherada Cultural, por James Scavone : http://bit.ly/isY9Ta

– Resenha no Crimineliber, por Fernando Barreto : http://bit.ly/kDEpTa

– Resenha no Balaio de Notícias, por Eduardo Sabino: http://bit.ly/iBlHgE

– Resenha no Camponês, por Sergio de Souza: http://bit.ly/p8ZcJA

– Resenha  no Livros que eu li, por Agnaldo Medici Severino: http://bit.ly/mYgAun

– Resenha no Bons livros para ler, por Luiz Guilherme de Beaurepaire: http://migre.me/5Wny9

– Resenha no Bule, por Édio Pullig: http://migre.me/5Wntk

– Resenha na Revista Pittacos, por Sheila Kaplan: http://goo.gl/3uCQc

– Resenha no Fiasco, por Carlos Fialho: http://goo.gl/gVCi0

– Resenha na Revista Pessoa, por Claudia Nina: http://goo.gl/aWQe1

– Resenha no Livrada, por Nego Dito: http://goo.gl/kiHmnz

– Resenha no Fósforo, por Vinicius Steinbach: http://goo.gl/KvDnVZ

– Resenha no Homo Literatus, por Murilo Reis: http://goo.gl/u39Tza

– Resenha no Garrafada Cultural, por Hermes: http://goo.gl/JKhoX6

– Resenha no Só Sobre Livros, por Renata Lima: http://goo.gl/HhfCto

– Resenha no Zzumbido, por J.R.Cazeri: http://goo.gl/ZrpGTj

– Comentário de Contardo Calligaris, blog da Companhia das Letras: http://bit.ly/j3DQtO

– Comentário de Cristóvão Tezza, Gazeta do Povo: http://goo.gl/uYiWi

– Comentário de João Paulo Cuenca, Globo News: http://glo.bo/lNNWAJ

– Comentário de Ivana Arruda Leite no Doidivana: http://bit.ly/dK3Kzp

– Comentário de Henry Thorau, Associação dos Lusitanistas Alemães: http://migre.me/5WnCR

– Comentário de Cíntia Moscovich, Estudos Lusófonos: http://goo.gl/DbV47

– Enquetes/listas de melhores de 2011 que incluíram o livro: Globo (http://goo.gl/lDcl4), Valor Econômico (http://goo.gl/XoWVt), Zero Hora (http://goo.gl/pyMC7), Estúdio 1/Globo News (http://goo.gl/AOckv), Todoprosa (http://goo.gl/WkqWs), Ponto eletrônico (http://shar.es/oN7jn), Companhia das Letras (http://goo.gl/RSnuc), Meia Palavra (http://goo.gl/NTMVU, http://goo.gl/3gDJi, http://goo.gl/6JdZ8), Saraiva (http://goo.gl/OaJHS), Doidivana (http://goo.gl/PFDXM), Evandro Carmo (http://goo.gl/AWVE2)

– Também saíram resenhas de Reynaldo Damazio (Folha de SP – Guia de Livros), Carlos André Moreira (Zero Hora), Marcelo Lyra (Valor Econômico), André di Bernardi (Estado de Minas), Schneider Carpeggiani (Jornal do Commercio/Recife), Joel Pinheiro da Fonseca (Dicta&Contradicta) e Berta Waldman (Suplemento Literário de Minas Gerais), todas apenas em versão impressa.

– Resenhas/matérias em inglês: Independent (http://goo.gl/uJAqbk), Financial Times (http://goo.gl/5s87I0), BBC Radio (http://goo.gl/JzrOl8, comentário a partir de 22:00), Publishers Weekly (http://goo.gl/Ny1hWb), New Statement (http://goo.gl/ACjA6n), Irish Times (http://goo.gl/4jvwyo), Brooklyn Rail (http://goo.gl/bGlLsS), Literary Review/US (http://goo.gl/xtuvEP),  Boston Globe (http://goo.gl/Dxj6KJ), Full Stop (http://goo.gl/c165Jg) Bookmunch (http://goo.gl/Yaa2ch), Northern Echo (http://goo.gl/TIX799), One Day Perhaps I’ll Know (http://goo.gl/5EevJg), Plasticrosaries (http://goo.gl/fVEj4y), Bookslut (http://goo.gl/P32coh), Winstonsdad’s Blog (http://goo.gl/Q3hrvz), Baits for Bookworms (http://goo.gl/t5OcMm), Escapades for bookworms (http://goo.gl/PyuoW1), I read novels (http://goo.gl/13KSqd), Kirkus Reviews (http://goo.gl/JWabw2), Miss Chapter’s Reviews (http://goo.gl/rJxYZX), Corduroy Books (http://goo.gl/2V6Dfv), Bloggers Recommend (http://goo.gl/d0Ydxl), Washington Independent Review of Books (http://goo.gl/bb0BRe), 1Streading (http://goo.gl/5y1Xla), Book People’s Blog (http://goo.gl/4U1xU2), Great New Books (http://goo.gl/fr92Ks), Lit/Rant (http://goo.gl/kN0WbQ), Jewish Book Council (http://goo.gl/cWqg7y), On The Seawall (http://goo.gl/gMQUG7). Counterpunch (http://goo.gl/pc3FCM), blog da Barnes & Noble (http://goo.gl/mmtpV0), Wall Street Journal (http://goo.gl/bWRt3R) e nas edições impressas do Independent on Sunday, da Literary Review/UK, do Bookseller, da Press Association e do The Sun + nota na Paris Review (http://goo.gl/gdRxWN) + dicas de livros para a Copa do Guardian (http://goo.gl/msBJ8S ) e do Independent on Sunday (http://goo.gl/Z5z7DY ) + livros de verão do Financial Times (http://goo.gl/ygDVO4) + livros 2014 do Financial Times (http://goo.gl/RvMnw8), livros 2014/Herald Scotland (http://goo.gl/VS6ZzJ), livros 2014/Irish Times (http://goo.gl/H47Loe), livros 2014/Flavorwire (http://goo.gl/LbomV4) + lista da American Booksellers Association (http://goo.gl/GkGL5U) + revista da Oprah (http://goo.gl/p9cHqs).

– Resenhas/matérias na Alemanha: Focus (http://goo.gl/I5bVtG), Deutscheland Radio (http://goo.gl/DnbzVW), Buchtips.net (http://goo.gl/seMAow), HR (http://goo.gl/qkR8yl), WAS (http://goo.gl/cSl122), Tópicos (http://goo.gl/ViXYX9), Frantfurker Rundschau (http://goo.gl/7q7EGS), Noe Oz (http://goo.gl/WKYPl3), Athenaeum Boekhandel (http://goo.gl/pcUiTH), Literaturwelt (http://goo.gl/KDZUQD), Woxx (http://goo.gl/XTnY6Z), Buzzaldrins Bücher (http://goo.gl/YsJlgM), LiteraturKritic (http://goo.gl/zsy2B7). Na Espanha:  Devaneos (http://goo.gl/qLYLHR), Ricardo Menéndez Salmón (impresso – Faro de Vigo/La Nueva España/ La Opinion de Tenerife), El Imparcial (http://goo.gl/OBdzFC), Rob Valencia (http://goo.gl/6nmefu). Na França: Le Monde (impresso), Transfuge (impresso), Libération (impresso), Les Inrockuptibles (impresso), Salon Littéraire (http://goo.gl/ZLOEKz), Annelisa (http://goo.gl/PxlH7e), Creezzy (http://goo.gl/GfhBfV), Mediapart (http://goo.gl/43pyIl), Espaces Latinos (http://goo.gl/oPP36H), Cecile’s Blog (http://goo.gl/TTwwAA), Má Bouqinerie (http://goo.gl/VhxTWn), Des Lires Des Toiles (http://goo.gl/TY3eBR). Na Suécia: SvD (http://goo.gl/Fbr7QK), GP (http://goo.gl/f4ehlM), Kulturdelen (http://goo.gl/tQQcGo), Milder.No (http://goo.gl/ZpYBgR),  Expressen.se (http://goo.gl/ITBqwo), Bokstugan (http://goo.gl/ydVkDw), DN (http://goo.gl/f3IY6E), NSD (http://goo.gl/RpD37j), Dagensbok (http://goo.gl/ITIzMG), I Rosa Rum (http://goo.gl/rXNznA), Tidningen (http://goo.gl/GkjJzm). Na Noruega: Rosie-Maries Litteratur (http://goo.gl/loUmrr), Jeg Leser (http://goo.gl/K1cVtd). Na Itália: Recensire Il Mondo (http://goo.gl/7kGhbz), Le Parole Verranno (http://goo.gl/HcZlLk). Na Holanda: TPO Magazine (http://goo.gl/yQJSDz). Em Portugal (impresso): resenhas de José Mario Silva (Expresso), Isabel Coutinho (Público), Ana Dias Ferreira (Time Out/Lisboa).

– O livro saiu na Alemanha (Klett-Kotta), Espanha (Mondadori), Estados Unidos (Other Press), França (Buchet/Chastel), Holanda (Anthos), Inglaterra (Harvill Secker/Vintage), Israel (Modan), Itália (Feltrinelli), Noruega (Gyldendal Norsk), Portugal (Tinta da China) e Suécia (Albert Bonniers). Também virará filme (RT Features) e ganhou os prêmios Wingate (Inglaterra), Transfuge (França), Bienal de Brasília, Bravo Prime e Copa de Literatura Brasileira, além de ser finalista dos prêmios Dublin International Literary Award, Correntes de Escritas (Portugal), Portugal Telecom, São Paulo de Literatura e Zaffari/Bourbon. Primeiro capítulo: http://tinyurl.com/3urd7pp


Fim de semana

Um livroAs entrevistas da Paris Review, vol. 1 (Companhia das Letras, 464 págs.).

Um documentário (tirando o último minuto e umas forçadas aqui e ali)Trabalho interno, Charles Ferguson.

Um discoWhat did you expect from The Vaccines.

Um museu em Porto AlegreIberê Camargo.

Uma costela em Porto AlegreNa brasa.

Uma cachaça de butiá ruim (mas necessária) por R$ 3 Tutti.

‘Diário da queda’ – lançamento em Porto Alegre

Será dia 21/3, às 19h, na Livraria Cultura do shopping Bourbon.

Fim de semana

Um livroLiquidação, Imre Kertész (Companhia das Letras, 112 págs.).

Um ensaioConsider the lobster, David Foster Wallace.

Uma iniciativa – Projeto Paillard, por @kidids.

Um bar em Porto Alegre – Bierkeller.

Um discoRain, Fauna.

Transformando dor em mel

(Publicado no blog da Companhia das Letras):

Num ótimo ensaio que saiu no Guardian em 2007, Zadie Smith disse algo interessante sobre T.S. Eliot, segundo quem a personalidade do escritor não interessa – ou, num resumo mais grosseiro, texto e autor são inconfundíveis. Pergunta Zadie: será que Eliot não dedicou seu enorme talento para defender essa tese, entre outras razões, porque em sua biografia constava o fato de ter abandonado a mulher num hospício?

Para 98,5% dos ficcionistas – margem de erro para baixo e para cima: 1,5% –, a pergunta é retórica. Todo livro é autobiográfico, não apenas no sentido literal de incluir cenas realmente acontecidas, com os devidos disfarces e perfumes, mas de forma indireta e também óbvia: não existe criação sem memória, e memória é autobiografia. A descrição de um lugar só pode ser feita a partir de pedaços recombinados, mesmo que em negativo, de lugares onde estivemos. A descrição de uma cor alude a experiências plásticas e sensoriais pré-existentes, como quando W.G. Sebald batiza um certo “cinza-Lúcio”, ou quando uma cega ouve – num velho filme com Cher e um garoto de cabeça defeituosa –  que o branco é algodão entre os dedos, o vermelho é algo que queima e assim por diante.  E o que é o estilo literário senão a reprodução, em sintaxe, ritmo, lógica e ideias, da maneira como um autor pensa – ou seja, de como é?

A separação entre vida e obra inexiste não apenas nos livros. John Updike dizia que o escritor só tem experiências “reais” durante a infância e adolescência. A partir do momento em que percebe que o sofrimento pode ser matéria ficcional, deixa de senti-lo em sua totalidade, como quem tem tudo a perder, e aí não é muito difícil transformar “dor em mel”. Como a velha mitologia romântica nos faz acreditar que o mel será mais doce se houver mais dor, em alguns casos – juro que estou falando em tese… – o sofrimento passa a ser quase desejado.

É sempre uma tarefa ingrata, de qualquer forma, defender a autonomia dos próprios personagens. Não só diante de certo público – imagine descrever um chefe de família tirano ou um relacionamento terrível e depois ser lido pelo pai e pela namorada –, mas diante de si mesmo. Como tornar crível um narrador amoral? Um psicopata? Um assassino ou estuprador? Certamente não basta ler livros, ver filmes e fazer entrevistas sobre o tema. Não basta reproduzir ideias alheias, quando não lugares-comuns, sobre tipos tantas vezes repisados na ficção. É preciso botar algo de si nesse personagem, algum sentimento que combine com seu discurso e atitudes. Aos olhos de qualquer leitor experiente, é essa matéria escura, incômoda e particular, nascida não por geração espontânea, e sim por uma experiência que a molda e sustenta, que diferencia o escritor de verdade da imensa maioria dos seus pares.

Há um conto de David Foster Wallace em que o personagem pergunta algo como: podendo ou não ter sobrevivido a um grande trauma, e depois passado o resto dos anos conseguindo vantagens em torno dele – publicando memórias de sucesso e coisas assim –, o que você escolheria? Uma vida banal sem esse sofrimento passageiro, mas enriquecedor em termos existenciais e materiais a longo prazo, ou o contrário? No fundo, e dados os devidos descontos morais – o conto fala sobre campos de concentração, e claro que DFW tem uma visão crítica/irônica sobre a fala do seu protagonista –, o dilema de todo escritor é esse. Ou melhor, não é: ao escolher essa carreira sublime, ingrata e muitas vezes patética, e tendo a mínima vocação para ela, sua resposta terá sido dada desde sempre.

Fim de semana

Um livroCoração tão branco, Javier Marías (Companhia de Bolso, 272 págs.).

Uma entrevista – Miguel Nicolelis (aqui).

Um discoCape dory, Tennis.

Um filme ainda em cartazA Rede social, David Fincher.

Um cinema ainda funcionando – Marabá.

Um site ainda no ar (talvez não por muito tempo)http://www.dominiopublico.gov.br

Links

(@michellaub):

– Eco, Tabucchi, J.Marías, V.Matas, Llosa e outros falam (e às vezes mentem) sobre por que escrevem: http://migre.me/3KbNc, via @jocaterron

– O rosto de Phil Toledano (Kim Jong Phil) em pinturas e esculturas de países ditatoriais: http://tinyurl.com/4ksclkv

– Vista aérea de uma província do Afeganistão (19 fotos): http://tinyurl.com/66s68rn

– Recusa perfeita de um livro de Gertrude Stein: http://tinyurl.com/45b6ws2

– Gente comprando e vendendo comida: http://tinyurl.com/66jdbqf

– Pai e filha cantam Edward Sharpe: http://bit.ly/dMfxFH, via @alexandrerodrig

– Vanessa Bárbara sobre preparação de livros e psiquiatria: http://bit.ly/h17wbC

– Textos escritos por Martin Luther King nos anos 60: http://tinyurl.com/6f3g5zy

– 100 logos criados em 100 dias (a maioria para produtos imaginários): http://tinyurl.com/6998moz

– Sistema solar: http://tinyurl.com/4ntdx6l

Links

(@michellaub):

– Martin Amis na Paris Review: http://tinyurl.com/4cutomn

– Paul Theroux sobre autobiografias:http://tinyurl.com/4fbhfhh

– Bicicletas no campo de batalha: http://tinyurl.com/4rdz468

– Rússia: a vida na província (34 fotos). http://tinyurl.com/3y5sral

– Como são escritos os discursos dos presidentes: http://tinyurl.com/4ve8kv4

– Correspondência entre André Conti e Daniel Galera: http://tinyurl.com/4wxgh2p

– A Nova York de Salinger: http://tinyurl.com/4mxcyx9

– Tubarões: http://tinyurl.com/4fcxrk2

– Judias ortodoxas no Brooklyn: http://tinyurl.com/34e8hne. E Travestis em Istambul: http://tinyurl.com/34dzof6

– Pior boxeador (e melhor transmissão esportiva) da história: http://tinyurl.com/35pncbr

Carnaval

Um filmeInverno da alma, Debra Granik.

Outro filme127 horas, Danny Boyle.

Um quilo no Frei Caneca – Latife.

Outro quilo no Frei Caneca – Coração Mineiro.

Um discoCollapse into now, R.E.M.

Um livroO museu do peixe morto, Charles D’Ambrosio (Grua, 256 págs.).

A diferença entre homem, salmão, mosquito, truta e jaguar

Mais trechos de A vida dos animais (ver post anterior):

“Na visão ecológica, o salmão, as algas fluviais e os insetos aquáticos interagem em uma grande dança complexa com a terra e o clima. O todo é maior que a soma de suas partes. Nessa dança, cada organismo tem um papel: são esses múltiplos papeis, mais que os seres particulares que os desempenham, que participam da dança. Quanto aos intérpretes reais, na medida em que são auto-renováveis, na medida em que continuam vindo, não precisamos prestar nenhuma atenção neles (…). É uma terrível ironia. Uma filosofia ecológica que nos diz para viver lado a lado com outras criaturas se justifica apelando para uma ideia, a ideia de uma ordem superior a qualquer criatura viva. Uma ideia, afinal – e esse é o caráter esmagador dessa ironia – que nenhuma criatura é capaz de entender, a não ser o homem. Toda criatura viva luta por sua vida própria, individual, e recusa, por meio da luta, render-se à ideia de que o salmão ou o mostuito pertencem a uma ordem de importância inferior à ideia do salmão ou à ideia do mosquito. Mas quando vemos o salmão lugando por sua vida, dizemos que ele é simplesmente programado para lutar; dizemos, como Tomás de Aquino, que ele está trancado em uma escravidão natural; dizemos que ele não tem consciência de si (…).Nós, os gerentes da ecologia (…), entendemos a dança maior, portanto podemos decidir quantas trutas podem ser pescadas ou quantos jaguares podem ser enjaulados sem afetar a estabilidade da dança. O único organismo sobre o qual não pretendemos ter esse direito de vida e morte é o homem. Por quê?”

“O programa de experimentação científica que (…) leva a concluir que os animais são imbecis (…) valoriza a capacidade de encontrar a saída em um labirinto estéril, ignorando o fato de que, se o pesquisador que desenhou o labirinto fosse lançado de para-quedas nas selvas de Borneu, ele ou ela ou morreria de fome em uma semana. Na verdade, eu diria além. Se disserem – a mim, como ser humano – que os padrões usados hoje para avaliar animais nesses experimentos são padrões humanos, eu me sentiria insultada. Os experimentos em si é que são imbecis. Os behavioristas que os inventam afirmam que só chegamos ao entendimento por meio de um processo de criação de modelos abstratos, testando em seguida esses modelos contra a realidade. Que bobagem. Nós chegamos ao entendimento imergindo a nós mesmos e à nossa inteligência na complexidade.”

“Como é que a humanidade lança, geração após geração, um quadro de pensadores (…) capazes, depois dos protocolares doze anos de escolaridade básica e seis de instrução universitária, de dar uma contribuição para a decodificação do grande livro da natureza por intermédio das disciplinas da física e da matemática? Se a essência do homem está realmente em sintonia com a essência de Deus, não é para se desconfiar que os seres humanos levem dezoito anos, uma bela e considerável parcela da vida humana, para se qualificar como decodificadores do roteiro principal de Deus, em vez de cinco minutos ou, digamos, de quinhentos anos? Talvez o fenômeno que estamos examinando aqui, mais que o desabrochar de uma faculdade que dá acesso aos segredos do universo, seja o campo de especialização de uma tradição intelectual – bastante limitada e que se auto-reproduz – cujo ponto forte é o raciocínio, da mesma maneira que o ponto forte de um jogador de xadrez é jogar xadrez, uma atividade que no seu próprio interesse tenta se instalar como centro do universo? (…) Pois vista de fora, sob o prisma de um ser alheio a ela, a razão é simplesmente uma vasta tautologia. É evidente que a razão validará a razão como princípio primeiro do universo. O que mais poderia fazer? Destronar-se? Os sistemas de raciocínio, como sistemas de totalidade, não têm esse poder. Se houvesse uma posição da qual a razão pudesse atacar e destronar a si mesma, ela já teria ocupado essa posição, de outra maneira não seria total.”

A diferença entre homem e macaco

Trecho de discurso da personagem Elizabeth Costello, militante vegetariana, em A vida dos animais, de J.M.Coetzee (Companhia das Letras, 148 págs., tradução de José Rubens Siqueira):

“Permitam que lhes relate o que alguns dos macacos de Tenerife aprendiam com seu mestre Wolfgan Köhler, particularmente Sultão, o melhor de seus alunos (…).

Sultão está sozinho em seu cercado. Está com fome: a comida, que costumava chegar com regularidade, inexplicavelmente deixou de vir. O homem que costumava alimentá-lo, e que agora parou de fazê-lo, estica um fio três metros acima do chão de seu cercado e nele pendura uma penca de bananas. Arrasta para dentro do cercado três caixotes de madeira. Depois desaparece, fechando o portão, mas permanecendo nas proximidades, pois é possível sentir seu cheiro.

Sultão sabe: agora é preciso pensar. Por isso as bananas estão ali no alto. As bananas estão ali para fazer pensar, para empurrar o sujeito até os limites do pensamento. Mas o que se deve pensar? Algo como: por que ele está me deixando passar fome? Ou: o que foi que eu fiz? Por que ele parou de gostar de mim? Ou ainda: por que ele não quer mais esses caixotes? Mas nenhum desses é o pensamento correto. Até um pensamento mais complicado – por exemplo: qual é o problema dele, que conceito errado ele faz de mim que o leva a acreditar que é mais fácil para mim chegar até uma penca de bananas pendurada num fio do que pegar as bananas do chão? –, até isso está errado. O pensamento certo é: como usar os caixotes para chegar às bananas?

Sultão arrasta os caixotes até posicioná-los sob as bananas, empilha um em cima do outro, sobe na torre que construiu e pega as bananas. Pensa: será que agora ele vai parar de me castigar?

A resposta é: não. No dia seguinte, o homem pendura outra penca de bananas no fio, mas também enche os caixotes de pedras, de forma que fiquem pesados demais para arrastar. O que se deve pensar não é: por que ele enche os caixotes de pedras? O que se tem de pensar é: como se faz para usar os caixotes para pegar as bananas, apesar de estarem cheios de pedras?

Dá para começar a entender como funciona a cabeça do homem.

Sultão remove as pedras de dentro dos caixotes, constrói uma torre com os caixotes, sobe na torre, pega as bananas.

Enquanto Sultão continuar tendo os pensamentos errados, passará fome. Até a sua fome ser tão intensa, tão avassaladora, que ele se veja forçado a ter o pensamento correto, isto é, como conseguir pegar as bananas. Assim são testadas até o limite as capacidades do chimpanzé.

O homem põe uma penca de bananas um metro para fora da malha de arame do cerrado. Joga uma vara para dentro do cerrado. O pensamento errado é: por que ele parou de pendurar as bananas no fio? O pensamento errado (o pensamento errado-correto, todavia) é: como usar os três caixotes para pegar as bananas? O pensamento correto é: como usar a vara para pegar as bananas?

A cada vez, Sultão é levado a ter o pensamento menos interessante. Da pureza da especulação – por que os homens se comportam assim? – ele é impiedosamente impelido ao raciocínio mais baixo, prático, instrumental – como usar isto para conseguir aquilo? – e assim à aceitação de si mesmo primordialmente como um organismo com um apetite a ser satisfeito. Embora toda a sua história, desde o momento em que sua mãe foi morta e ele foi capturado, passando pela viagem numa jaula até a prisão neste campo, desta ilha, e os jogos sádicos que ali se realizam com a comida, tudo o leva a questionar a justiça do universo e o lugar que nele ocupa esta colônia penal, na qual um regime psicológico cuidadosamente planejado o leva para longe da ética e da metafísica em direção ao humilde domínio da razão prática. E de alguma forma, ao palmilhar esse labirinto de constrangimento, manipulação e duplicidade, ele tem de entender que de jeito nenhum pode ousar desistir, porque em seus ombros repousa a responsabilidade de representar a essência macacal. O destino de seus irmãos e irmãs pode ser determinado pelos resultados que ele obtiver.

Wolfgan Köhler provavelmente era um bom homem. Um bom homem, mas não um poeta. Um poeta teria entendido alguma coisa ao ver os chimpanzés cativos girando em círculo no recinto, em tudo semelhantes a uma banda militar, alguns nus como no dia em que nasceram, outros cobertos por cordas ou velhas tiras de pano que acharam por ali, como se estivessem vestidos com esses trapos, outros ainda carregando pedaços de qualquer coisa.

(No exemplar do livro de Köhler que li (…) algum leitor indignado havia anotado à margem neste ponto: ‘Antropomorfismo!’. Animais não sabem marchar, ele queria dizer, não sabem se vestir, porque não conhecem o significado de marchar, não conhecem o significado de vestir-se).

Nada em suas vidas pregressas acostumou esses macacos a olhar para si mesmos de fora, como se pelos olhos de alguém que não existe. Na percepção de Köhler, as fitas e os objetos não estão ali para que obtenham um efeito visual, porque fazem-nos parecer elegantes, mas sim para que obtenham um efeito cinético, porque os fazem sentir-se diferentes – qualquer coisa para aliviar o tédio. Apesar de toda a sua simpatia e capacidade de compreensão, Köhler só consegue chegar a esse ponto – ponto do qual um poeta poderia começar, partindo de algum sentimento de compaixão pela experiência do macaco.

No seu ser mais profundo, Sultão não está interessado no problema da banana. Só a mente do experimentador, obsessivamente voltada para o problema, é que o força a se concentrar nele. A questão que realmente o ocupa, como ocupa o rato e o gato e qualquer outro animal aprisionado no inferno de um laboratório ou de um zoológico, é a seguinte: onde está a minha casa e como chego lá?”