Invictus – A única vez nas últimas décadas em que, não se tratando de cinema oficialesco, alguém mostra o ufanismo de maneira positiva. Politicamente se justifica, e a trama sobre esporte como instrumento de integração racial na África do Sul tem seu interesse para quem nunca ouviu falar a respeito, mas o resultado é frio, sem grandes sobressaltos para o bem e para o mal. A impressão é que os elogios da crítica se devem menos a qualidades estéticas – as tão aclamadas sequências de rugby são inferiores, por exemplo, às de futebol americano na versão sem cortes de Um domingo qualquer – do que a uma simpatia prévia, e também justificada, por Clint Eastwood, Morgan Freeman e Nelson Mandela.
Um homem sério – Imagino que não exista nada mais divertido para os irmãos Coen que escrever e filmar a cena onde um personagem é apresentado. A obra inteira dos dois poderia ser defendida apenas por esses momentos, e no filme eles estão muito bem representados pelas primeiras vezes em que aparecem o amante, o professor de hebraico, o advogado de imóveis, o terceiro rabino. E ainda há todo o resto: uma quintessência do melhor humor judaico baseado na perspectiva iminente de uma tragédia, aqui temperada pelo mote de sempre dos Coen, a hora em que o protagonista resolve pegar um dinheiro que não é seu ou ter um caso com a mulher de um amigo ou vizinho. É curioso como a dupla continua sendo definida – ou acusada – pelo suposto cinismo. Com um desfecho que remete ao deus punitivo do antigo testamento, Um homem sério é mais um dos exemplos que, de Blood simple a Fargo, de O homem que não estava lá a Onde os fracos não têm vez, provam justamente o contrário.
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