Michel Laub

Mês: novembro, 2017

Fim de semana

Um filme – The Meyerowitz Stories, Noah Baumbach.

Um documentário meio egóico – Jim & Andy: The Great Beyond, Chris Smith.

Um ensaio de 1975 – Susan Sontag sobre Leni Riefenstahl (aqui).

Uma novela – Glaxo, Hernán Ronsino (Ed 34, 77 págs.).

Um livro de poemas – A Orca no Avião, Sofia Mariutti (Patuá, 71 págs.).

Um judeu vê filmes nazistas

Em suas memórias sobre a Fatwa, decreto religioso que o condenou à morte por ter escrito um romance supostamente blasfemo contra o Islã, Salman Rushdie chamou os dez anos em que precisou viver escondido de “batalha entre a mente literal e a mente irônica”. É uma boa definição: o contrário das certezas do fanatismo seria um recurso cuja essência – dizer algo diferente do que parece estar sendo dito – é um convite à nuance, à dúvida que faz avançarem inteligência e sensibilidade.

Seria tentador usar esse exemplo para ridicularizar quem se indignou com a programação recente de instituições culturais no país – evangélicos, um ex-ator pornô e Senhoras de Santana disfarçadas de liberais. Afinal, ver estímulo à pedofilia num quadro que traz a frase “criança viada” (Santander Cultural/Porto Alegre), ou um ato sexual numa menina acompanhada da mãe que toca o braço de um homem nu cercado de outras pessoas num museu (MAM/SP), entre tantos outros exemplos, é só entender as coisas por um valor de face adaptado à estupidez do observador.

Mais interessante, porém, é levar o caso a sério em seus próprios termos. Um dos subtextos dos protestos reafirma uma verdade que andava esquecida: a de que algumas das batalhas centrais na determinação da mentalidade de uma época estão, sim, no campo simbólico da representação estética. Se a arte voltou a ser perigosa, é porque voltou a ser relevante.

Trecho inicial de texto que publiquei na Folha de S.Paulo, 19/11/2017. Íntegra aqui.

Fim de semana

Um filme – Borg Vs McEnroe, Janus Metz Pedersen.

Outro – Gabriel e a Montanha, Fellipe Barbosa.

Um livro – O Palácio da Memória, Nate DiMeo (Todavia, 253 págs.).

Outro – A Glória e seu Cortejo de Horrores, Fernanda Torres (Companhia das Letras, 216 págs.).

Um texto – Marcel Cohen sobre coincidências na Piauí.

Egopress

– No dia 26/11, às 16h30, estarei em uma das mesas do Fórum das Letras de Ouro Preto, com Amilcar Bettega Barbosa, Olivier Bourdeaut e Sebastien Lapaque. A curadoria é de Guiomar de Grammont.

– Na edição deste mês da Quatro Cinco Um, há uma resenha minha sobre os novos livros de Sérgio Branco e Francisco Bosco.

– Entrevista que dei a Roberta Carmona, do Literatórios: https://goo.gl/mhX88r

Fim de semana

Um artigo – Hermano Vianna sobre inteligência artificial (aqui).

Outro – Joan Acocella sobre Lutero (aqui).

Um filme – Churchill, Jonathan Teplitzky.

Um filme ok – O Formidável, Michel Hazanavicius.

Um livro – A vítima tem sempre razão?, Francisco Bosco (Todavia, 208 págs.).

Um campo aparado cercado por bosques

Trechos de Imunidade, de Eula Biss (Todavia, 206 págs., tradução de Pedro Maia Soares):

“‘Toxicologia intuitiva’ é o termo que [Paul] Slovic usa para a forma como a maioria das pessoas avalia o risco dos produtos químicos. Sua pesquisa revela que essa abordagem é distinta dos métodos utilizados pelos toxicologistas, e tende a produzir resultados diferentes. Para os toxicologistas, ‘a dose faz o veneno’. Qualquer substância em excesso pode ser tóxica. A água, por exemplo, em doses muito elevadas é letal para os seres humanos, e o excesso de hidratação matou um corredor na maratona de Boston de 2002. Mas a maioria prefere pensar nas substâncias químicas como seguras ou perigosas, independentemente da dose. E expandimos essa ideia, na medida em que consideramos prejudicial qualquer exposição a produtos químicos, por mais breve ou limitada que seja.”

“Ao explorar essa ideia, Slovic sugere que pessoas que não são toxicologistas podem aplicar uma ‘lei do contágio’ à toxidade. Assim como a breve exposição a um vírus microscópico pode resultar em doença para o resto da vida, supomos que a exposição a qualquer quantidade de um produto químico nocivo contaminará nossos corpos para sempre. ‘Ser contaminado tem claramente um caráter de tudo ou nada, como estar vivo ou grávida.’”

“Um dos apelos da medicina alternativa é que ela oferece não apenas uma filosofia ou tratamento alternativo, mas também uma linguagem alternativa (…). Por mais verdadeira que seja, a ideia de que nosso remédio é tão defeituoso quanto nós não é reconfortante. E quando conforto é o que queremos, um dos mais poderosos tônicos que a medicina alternativa oferece é a palavra ‘natural’. Ela implica um remédio não perturbado pelas limitações humanas (…), que passou a significar para nós (…) ‘puro’, ‘seguro’ e ‘benigno’. Mas o uso de natural como sinônimo de ‘bom’ é quase certamente um produto de nossa profunda alienação do mundo natural.”

“Permitir que as crianças desenvolvam ‘naturalmente’ a imunidade a doenças contagiosas, sem vacinação, é uma ideia bastante atraente para alguns de nós. Grande parte dessa atração depende da crença de que as vacinas são inerentemente antinaturais. Mas as vacinas pertencem àquele lugar de transição entre os seres humanos e a natureza – um campo aparado (…) cercado por bosques. A vacinação é uma espécie de domesticação de uma coisa selvagem, na medida em que envolve nossa capacidade de atrelar um vírus e domá-lo como um cavalo, mas sua ação depende da resposta natural do corpo (…). O aspecto mais antinatural da vacinação é que, quando tudo corre bem, ela não provoca doença nem produz um mal.”