Em 2001, o compositor alemão Karlheinz Stockhausen causou algum barulho ao dizer que os atentados do 11/9 eram a maior obra de arte já realizada. Pouco depois, pulando o debate sobre a inconveniência da frase naquele momento dramático, o escritor, curador e crítico Teixeira Coelho publicou um ensaio na revista Bravo sobre a presença do mal em pinturas, livros, filmes.
O texto não tratava de questões temáticas: obras sobre dor ou injustiça, por exemplo. Comentando sobre uma tela de Coopley (1778), na qual um tubarão está prestes a atacar uma mulher nua, Coelho escreve que nela “perigosa é a vida, não a arte”, pois essa “não ameaça nem seu observador, nem seu artista”. Já numa de J. Vanderlyn (1804), em que uma branca está prestes a ser morta por indígenas, o tom seria o do martírio – “e o martírio (…), ao menos para a vítima, pode ser o caminho do bem.”
O mal na arte é outra coisa: “Aquilo que não deveria estar ali (…), que não deveria ser desse modo”. Um dos casos citados no ensaio é Retrato da Família Gozzadini (1584), pintura da italiana Lavinia Fontana que põe em cena uma dinastia nobre de Bolonha, misturando personagens vivos e mortos. O incômodo que emerge da tela é mais difuso, menos suportável porque estático, “sempre igual a si mesmo”: “Não há torturas e mortes, apenas um retrato de grupo. Mas a escuridão prevalece, as feições são duras, as mãos se crispam num pálido balé ameaçador que as roupas suntuosas tornam ainda mais pesado.”
Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 8-7-2022. Íntegra aqui.
Um depoimento – Heloisa Jahn (aqui).
Uma conversa – Mano Brown e Zeca Pagodinho (Spotify).
Uma exposição no Tomie Ohtake – Anna Maria Maiolino.
Outra – Tomie Ohtake.
Uma graphic novel – Flying Couch, Amy Kurzweil (Catapult, 224 págs.).
Um disco – Seven Psalms, Nick Cave.
Um filme – Crimes of the Future, David Cronenberg.
Uma série ok – Modern Love.
Uma entrevista – Leão Serva sobre guerra e imagens (aqui).
Um romance – Não Fossem as Sílabas do Sábado, Mariana Salomão Carrara (Todavia, 168 págs.).