Michel Laub

Mês: abril, 2018

Fim de semana

Um livro – Strangers in Their Own Land, Arlie Russell Hochschild (The New Press, 368 págs.).

Um livro de fotografia – Sleeping by the Mississippi, Alec Soth (Mack, 120 págs.).

Um livro de contos – Reserva Natural, Rodrigo Lacerda (Companhia das Letras, 184 págs.).

Um ensaio – Jonathan Franzen sobre aquecimento global na Serrote.

Um filme – O Cavalo de Turim, Béla Tarr.

Egopress

– Neste sábado, 28/4, a partir das 16h, na Mercearia São Pedro/SP, será lançada a coletânea Saideira, com epitáfios escritos para si mesmos por 50 autores, eu entre eles, em homenagem aos 50 anos do bar. A organização é de Joca Terron e Marcelino Freire.

– Saiu um conto meu no novo número da revista Grotta, dos Açores, que tem um dossiê sobre literatura de Porto Alegre organizado por Diego Grando e Márcia Ivana de Lima e Silva.

– Já a revista Intervalo Analítico, da Sociedade Brasileira de Psicanálise/RJ, publicou uma entrevista minha a Tiago Franco. PDF da edição: https://goo.gl/UyeFUf

– Tese de mestrado do Gabriel Felipe Pautz Munsberg, da UFRGS, sobre Diário da Queda e Passo de Caranguejo (Gunter Grass): https://goo.gl/cK2r8t

– Tese de doutorado de Rafael Barreto do Prado, da USP, sobre língua e romances brasileiros contemporâneos, A Maçã Envenenada entre eles: https://goo.gl/GGX9FQ

– Participação minha no programa do Pedro Bial, com Wagner Schwartz e Carolina Jabor, discutindo linchamentos virtuais: https://goo.gl/gTMZp4

Fim de semana

Uma exposição – Mira Schendel no MAM.

Um romance – A Tirania do Amor, Cristovão Tezza (Todavia, 176 págs.).

Um livro de contos – O Sol na Cabeça, Giovani Martins (Companhia das Letras, 120 págs.).

Um documentário – Panteras Negras: a Vanguarda da Revolução, Stanley Nelson.

Um filme meio bobo – Baseado em Fatos Reais, Roman Polanski.

Acrobatas e Leviatãs

Celso Rocha de Barros sobre o livro How Democracy Ends, de David Runciman, na Piauí:

“Runciman vê paralelos entre o período atual de crise democrática e a última década do século XIX, marcada por movimentos populistas, teorias da conspiração, mudanças tecnológicas, desigualdade crescente, e a falta de uma guerra (que ofereceria uma experiência de trauma coletivo semelhante àquela que o populismo encena).

Aquela crise da democracia deu origem a uma espetacular era de reformas, em que se consolidaram as duas bases de sustentação da democracia: a garantia de prosperidade futura, conseguida por meio da combinação entre capitalismo e estado de bem-estar social, e o reconhecimento da dignidade individual, pelo respeito aos direitos individuais e o direito ao voto. Nos lugares em que a democracia conseguiu se consolidar, a crise da democracia do final do século XIX a fez ressurgir mais forte do que nunca.

A crise atual, entretanto, dificilmente será resolvida como a do século XIX. Não há como expandir o estado de bem-estar social indefinidamente, e, nos países desenvolvidos, o direito ao voto é universal. Se esses limites já não bastassem, há uma outra característica, bastante particular, específica dos dias atuais, segundo Runciman: os problemas colocados diante da sociedade moderna talvez estejam se tornando ou grandes demais ou pequenos demais para serem resolvidos pela governança democrática.

Por um lado, há uma série de ameaças existenciais pairando sobre a espécie: o risco de guerra nuclear, o risco de catástrofe ambiental, e, talvez, em um futuro não tão distante, o risco de subjugação pela tecnologia.

Não é claro que a democracia consiga lidar bem com esses problemas de grande escala. Os governos democráticos deixaram o problema do aquecimento global chegar a um ponto em que talvez não seja mais possível evitar uma catástrofe. Poderíamos ter votado por limites ao nosso próprio consumo, mas, até agora, não votamos. Da mesma forma, devemos mesmo dar a Donald Trump o poder de destruir o mundo apertando um botão? Mas, se não o fizermos, quem deve ter esse poder? Os generais americanos provavelmente são mais confiáveis do que Trump, mas o quão confiáveis eles são?

Da mesma forma, há um risco real de que a mudança tecnológica comprometa a democracia. O caso mais evidente é a possibilidade de aprimoramento genético para quem puder pagar. Se os filhos dos ricos forem programados para serem superinteligentes ou supertalentosos, será que a igualdade jurídica ainda vai significar a mesma coisa? As possibilidades abertas pela tecnologia podem ser fascinantes: um futuro de automação total em que passemos nossa vida nos divertindo, por exemplo. Mas também podem ser terríveis – uma ditadura de super-homens geneticamente aprimorados, uma vida social destruída pela virtualidade e pela fragmentação da identidade que ela traz. Ainda não temos instrumentos analíticos para prever sequer que problemas teremos nesse front.

Essas ameaças grandes demais para a democracia transferem poder aos tecnocratas e outros tipos de especialistas, que, cada vez mais, também controlam áreas importantes da vida social, como a gestão macroeconômica. Isto é, a participação na gestão dos benefícios de longo prazo do desenvolvimento é cada vez menos decidida democraticamente.

E não basta simplesmente injetar o ruído da democracia na gestão tecnocrática: isso pode funcionar quando o problema é a insensibilidade social ou a inércia dos especialistas, mas e se a gestão do problema exigir o mínimo de turbulência possível? O acrobata será beneficiado se o público começar a urrar sua desaprovação no meio do trajeto? Como saber o que é insensibilidade e inércia e o que, de fato, exige deixar o acrobata em paz? Não é uma questão simples. Naturalmente, todo sujeito inerte e insensível vai mentir que é acrobata.

Por outro lado, a dimensão “dignidade pessoal” da democracia – o respeito aos direitos individuais e à livre expressão dos cidadãos – é cada vez mais privatizada, e cada vez mais deriva para o anarquismo das redes sociais. E esse espírito ultrademocrático das redes sociais, se tem um lado bom evidente, também traz riscos significativos. Runciman lembra que Tocqueville via nos linchamentos americanos uma manifestação deformada do espírito democrático: a maioria se sente autorizada a descontar suas frustrações nas minorias vulneráveis. Na democracia moderna esses impulsos são domesticados pelas instituições, pela presunção de inocência, pelos direitos das minorias. Mas ainda não há nada disso na democracia das redes. Na frase de Runciman, ‘nós não linchamos mais; a não ser no Twitter’.

O tipo de individualidade formado pelo anarquismo das redes sociais também desfavorece a política democrática. No Facebook, no Instagram ou no Twitter, as pessoas se acostumam a ter gratificações imediatas, na forma de likes, compartilhamentos, retuítes, comentários. A democracia representativa funciona de outra forma: não gera gratificação imediata, e, como nota Runciman, não foi feita para fazê-lo. O ritmo mais lento dos compromissos partidários, dos procedimentos parlamentares, das negociações e acordos, deveria servir de contrapeso aos vieses cognitivos que nos tornam míopes. Os partidos políticos, em especial, deveriam administrar esse processo de avanços e tréguas, o tempo longo do compromisso.

Daí a tendência recente à substituição do partido – incapaz de gerar gratificações imediatas – pelo movimento. O Podemos da Espanha começou como movimento, o En Marche! de Emmanuel Macron foi criado em torno de seu líder, e o trabalhismo de Jeremy Corbyn representou a tomada do Partido Trabalhista por um movimento. Esses movimentos, para Runciman, são como o Facebook: combinam máxima horizontalidade – as redes, a espontaneidade etc. – com lideranças fortemente verticais. O Facebook é uma rede horizontal, sem dúvida, mas é também, no fim das contas, o brinquedo do Mark Zuckerberg. É ele quem decide as regras do jogo, e as modifica como e quando quer. O mesmo vale para Macron no En Marche!

A conclusão do livro é a de que só a política pode resgatar a política. É preciso que as tentativas de manipulação tecnológica e o poder do mercado sejam enfrentadas por políticos com coragem de desafiar fortíssimos interesses econômicos. O próprio mercado global é uma máquina que saiu de controle, e — – como no New Deal, em reação à crise econômica da década de 30 – a solução é simples: só o exercício do poder político pode limitar o poder do mercado ou da técnica. Só o antigo Leviatã pode enfrentar o novo Leviatã.”

Fim de semana

Um romance – Léxico Particular, Natalia Ginzburg (Companhia das Letras, 254 págs.).

Um livro jurídico – Memória e Esquecimento na Internet, Sérgio Branco (Arquipélago, 208 págs.).

Um ensaio – Celso Rocha de Barros sobre democracia na Piauí.

Outro – Ricardo Teperman sobre rap e MPB na Serrote 25 (aqui).

Um filme – Aos Teus Olhos, Carolina Jabor.

Fim de semana

Uma série – Wild Wild Country.

Um disco – Every Country’s Sun, Mogwai.

Uma exposição no Tomie Ohtake – Cecily Brown.

Outra – Paulo Pasta.

Um perfil – Marianne Elliott e a nova montagem de Angels in America (aqui).