Michel Laub

Categoria: Livros

Fim de semana

Um museu em Lima – Larco.

Outro – Mali.

Uma antologia – Trajetória Crítica, Jean-Claude Bernardet (Martins Fontes, 342 págs.).

Um relato Dezessete anos, Colombe Schneck (Relicário, 80 págs.).

Um filme com momentos – Dias Perfeitos, Wim Wenders.

Fim de semana

Um filme – Heart of a Dog, Laurie Anderson.

Um doc simpático – Hipgnosis, Anton Corbijn.

Outro – A Noite que Mudou o Pop, Bao Nguyen.

Um depoimento – Guilherme Arantes no Papo com Clê (aqui).

Um livro – Wet Mácula, Jean-Claude Bernardet e Sabina Anzuategui (Companhia das Letras, 159 págs.).

Fim de semana

Uma edição – Cartas a Theo, Vincent Van Gogh (Ed 34, 512 págs.).

Outra – Meditações, Marco Aurélio (Penguin, 208 págs.).

Uma entrevista no A Terra É Redonda – André Singer.

Um podcast – Natalie Kitroeff sobre El Salvador no The Daily.

Um disco – Mercy, John Cale.

Peguei você

Num ensaio publicado na revista The New Yorker, comentando o filme Maestro, um dos candidatos ao Oscar 2024, Richard Brody descreve um “hábito ruim” de críticos que analisam cinebiografias: buscar informações sobre a vida dos biografados para “brincar de peguei você” com omissões dos diretores. “A tentação de fazer isso responde a um sentimento – o de que muitos desses filmes deixam de fora mundo inteiros (…) que não cabem nos modelos sentimentais de Hollywood (…). Quando emoções dos personagens são perdidas, é natural procurar por fatos que justifiquem a lacuna.”

Maestro narra a vida do músico, compositor e regente norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990). Ter sido escrito, dirigido e estrelado por Bradley Cooper talvez indique um problema de origem: a tentativa de fazer caber no ego do autor do projeto a grandeza de seu personagem, com uso exibicionista de recursos – visual pirotécnico, ritmo às vezes rápido demais – que desviam a atenção do tema do filme. A questão é, e aí volto à ideia de Brody: qual é/deveria ser esse tema? A escolha de Cooper foi fazer a história girar em torno da bissexualidade de Bernstein, mantendo-a sob o âmbito de um conflito privado: o modo como o desejo do personagem interferiu em sua relação com a esposa, a atriz Felicia Montealegre (Carey Mulligan).

Diante do resultado, que considerou “oco”, Brody lembra que o filme omitiu a dimensão política que cercava esse drama. Numa única cena envolvendo o também maestro Serge Koussevitzky, e mesmo assim de forma discreta, sugere-se que a união de Bernstein com Felicia pode ter ajudado uma então incipiente carreira no ambiente homofóbico dos 1940 e 1950. Junto a episódios ausentes da trama, como intrigas que o protagonista teria feito contra um colega gay – Dimitri Mitropoulos, seu predecessor na Filarmônica de Nova York –, a questão poderia no mínimo ter dado mais relevo a essa trajetória.

Início de texto publicado no Valor Econômico, 2/2/2024. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma exposição – Histórias Indígenas, MASP.

Um ensaio – Tyler Austin Harper sobre poliamor e autoajuda (aqui).

Um filme – Sociedade da Neve, Juan Antonio Bayona.

Um filme estranho, mas bom – Pacifiction, Albert Serra.

Uma série – Feud: Capote Vs. The Swams.

Fim de semana

Um artigo – Os judeus e os direitos civis nos EUA (aqui).

Um perfil – César Aira por Alejandro Chacoff, na Piauí.

Um filme médio – Saltburn, Emerdald Fennel.

Uma série que tentei ver, mas não deu – True Detective 4.

Outra – White House Plumbers.

Fim de semana

Um filme – Folhas de Outono, Aki Kaurismäki.

Um filme meio vazio – Priscila, Sofia Coppola.

Um disco – Wall of Eyes, The Smile.

Uma série – Spade.

Um romance – A Mulher do Padre, Carol Rodrigues (Todavia, 216 págs.).

Fim de semana

Um filme – Anatomia de uma Queda, Justine Triet.

Outro – Monster, Kore-Eda Hirokazu.

Um livro de ensaios – Obra Crítica: Vol 1, Mario Pedrosa (Companhia das Letras, 594 págs.).

Um romance – Um Cão no Meio do Caminho, Isabela Figueiredo (Todavia, 218 págs.).

Um podcast – Lourenço Mutarelli na Rádio Novelo.

Fim de semana

Um ensaio – Masha Gssen sobre memória, Holocausto e Gaza (aqui).

Um romance brasileiro – Onde Pastam os Minotauros, Joca Terron (Todavia, 184 págs.).

Um disco – My Back Was a Bridge for You to Cross, Anohni and the Johsons.

Um filme – May December, Todd Haynes.

Outro – Past Lives, Celine Song.

Fim de semana

Uma série – Vale o Escrito.

Um filme médio, com momentos – Napoleão, Ridley Scott.

Um filme ruim, mas simpático – O Melhor Está por Vir, Nanni Moretti.

Um livro de poemas – Cabeça de Galinha no Chão de Cimento, Ricardo Domeneck (Ed 34, 128 págs.).

Outro – Abrir a Boca da Cobra, Sofia Mariutti (Círculo de Poemas, 74 págs.).

Fim de semana

Um podcast – Yanis Varoufakis no My Wildest Prediction.

Um documentário – The Trial of Henry Kissinger, Eugene Jarecky.

Outro – Antunes Filho – do Coração para o Olho, Cristiano Burlan.

Um filme médio – Maestro, Bradley Cooper.

Um livro de contos – Inveja e Outras Histórias, Bernardo Ajzenberg (Grua, 176 págs.)

Fim de semana

Um catálogo – Leonilson, Corpo Político (Almeida & Dale, 200 págs.).

Um ensaio – John, Julia de Souza (Âyiné, 108 págs.)

Um romance – Vinco, Manoela Sawitski (Companhia das Letras, 256 págs.).

Uma ópera no Municipal – Navio Fantasma, Wagner.

Um vídeo – Scorsese sobre Glauber Rocha (aqui).

Fim de semana

Um podcast – Israel em 1948, no The Daily.

Uma entrevista – Andrew Wylie (aqui).

Um filme bom até a metade – O Assassino, David Fincher.

Uma leitura teatral – O Dybuk, Casa do povo.

Uma montagem – Escute as Feras, Sesc Ipiranga.

Poesia e cidades

Há muitos modos de um lugar estar presente num poema. Não conheço as gírias, a sintaxe e a prosódia da Baixada Fluminense, onde Bruna Beber nasceu e foi criada, então não sei em que medida as referências a esse português específico são diretas ou misturadas a outras referências em sua nova coletânea, Veludo Rouco (Companhia das Letras, 100 págs.). Mas é certo que aí está o ponto de partida, a matriz para nomear coisas que aconteceram ou poderiam ter acontecido: “Aos sábados batida de coco. Aos domingos/ chupar peixe com pratada de grão de bico”; “No meu sonho todas as casas tinham um pé/ de nêspera, de dia colhia-se manga-espada e/ cajá e crianças roubavam romãs da vizinha”.

Bruna mora há anos em São Paulo, e num dos melhores dos poemas do livro – o que lhe dá título – a linguagem dos tempos de formação passa a ser a do presente no bairro de Santa Cecília, onde somos quase vizinhos. Aqui ela serve para descrever a minha rua, que é longa e tem três nomes: primeiro Lopes de Oliveira, surgida aos pés “do muro que esconde os trilhos cânones/ da Cia. Paulista de Trens Metropolitanos”; depois, basta “uma rifa de batedeira marrom”, e “com um chapéu forrado em organdi” a rua passa a ser Rosa e Silva; mais adiante, por fim, fazendo referência ao edifício frontal no outro extremo, a Rosa e Silva vira Brasilio Machado e termina “nas torres duplas, esdrúxulas do Queen Victoria.”

Quem está mais presente nos versos, São Paulo ou a Baixada Fluminense? Ampliando a pergunta: como separar em Veludo Rouco a paisagem concreta e a maneira como a linguagem de Bruna a reinventa, alternando no desfecho do poema a perspectiva quem narra, num corte da terceira para a primeira pessoa que inclui – como no resto do livro – imagens às vezes misteriosas, sempre sugestivas? “de que mais precisa a Amendoeira Terminália/ para fundir-se de vez ao universo como metal/ e cavalgá-lo, soberba e parada, pelos astros?”; “podem vasculhar com calma as minhas malas/ e, garanto, não há sequer um nécessaire da Varig/ tampouco um dedal; quem deliberou a beleza nasceu/ no lixo assim como eu, ademais todas nós vamos morrer”. 

Trecho de texto sobre os livros Veludo Rouco (Bruna Beber), Quadras Paulistanas (Fabricio Corsalleti), Jardim Botânico (Nuno Ramos) e Jet Lag (Waly Salomão). Publicado no Valor Econômico, 8/9/23. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma exposição – Cao Fei, Pinacoteca.

Um livro – Ellis Island, Georges Perec (Cícrulo de Poemas, 64 págs.).

Outro – Sem Título, de Amilcar de Castro, Flavio Moura (Edusp, 76 págs.).

Uma reprise – Di Cavalcanti, Glauber Rocha (aqui).

Um disco – Lusco-Fusco, Assucena.

O começo e o fim

Mas A Nudez da Cópia Imperfeita não é um texto direto de vingança. Schwartz é um artista, e é como tal que consegue falar do trauma, elaborando-o como um oposto daquilo que seus candidatos a algozes são. Em vez de usar a linguagem literal das acusações, o autor constrói um discurso sem sentido único, feito de fragmentos do noticiário real e de uma realidade inventada, na qual a estrutura do livro – alternando texto, fotografia e ilustração, em gêneros como o relato, o ensaio, a entrevista e o teatro – emula a subjetividade múltipla da memória.

Como no caso da performance do MAM, a experiência estética surge a partir de uma experiência física. Tudo começa e termina no corpo, que seguiu produzindo seus efeitos (os “jatos de ansiedade” ao ter que falar do assunto, por exemplo) enquanto Schwartz estava entregue à fúria da manada. Como expressar isso de um ponto de vista que é e não é particular, é e não é mediado? “Não era a arte que precisava de proteção, era eu. Mas além de ter que falar com uma voz coletiva, não poderia deixar a arte descer de seu estatuto de Arte. Tinha que responder as perguntas como um artista e não como quem sofreu um ataque.”

(…)

A fala de Schwartz vale para a jornada pessoal de A Nudez…, e em algum nível se aplica também a O Deserto e a Semente, romance de 1998 que agora sai no Brasil em tradução de Sérgio Molina (Companhia das Letras, 230 págs.). Nessa pequena joia do argentino Jorge Baron Biza, o sofrimento em si não sustenta nada: de novo é preciso usar recursos estéticos, reinventando um fato biográfico baseado numa agressão.

Trechos de texto sobre os livros A Nudez da Cópia Imperfeita e O Deserto e a Semente, publicado no Valor Econômico em 3/11/23. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma reportagem – David Remnick sobre Israel e Gaza (aqui).

Um texto de antes da guerra – Peter Pál Pelbart sobre ser judeu no Brasil (aqui).

Um livro – A Nudez da Cópia Imperfeita, Wagner Schwartz (Nós, 336 págs.).

Um livro de poesia – Uma Volta pela Lagoa, Juliana Krapp (Círculo de Poemas, 104 págs.)

Um filme – Assassinos da Lua das Flores, Martin Scorsese.

Fim de semana

Um romance – O Deserto e sua Semente, Jorge Baron Biza (Companhia das Letras, 232 págs.).

Um filme – The Pigeon Tunnel, Errol Morris.

Uma série sobre a Argentina – Dezembro de 2001.

Uma peça em SP – Selvagem, dir. Susana Ribeiro.

Uma exposição no Rio – Angelo Venosa, Casa Roberto Marinho.

Visões do Áporo

Uns anos atrás, eu diria que as influências mais visíveis nos textos de novos escritores brasileiros eram Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Rubem Fonseca. Hoje o estilo de Clarice segue muito imitado, talvez porque se confunda a complexidade de sua estética com mera confissão intimista, algo em voga num tempo egocêntrico como o nosso.

Na via oposta, o registro quase automático do umbiguismo das redes sociais, em geral falando de universos urbanos e não muito épicos, diminuiu um pouco a presença de Rosa. E Rubem Fonseca praticamente sumiu. Por bons e maus motivos, suas duas grandes características – o brutalismo masculino cínico e a ambição de reproduzir a voz de outras classes sociais e universos – entraram em choque com o principal modelo ficcional contemporâneo: a jornada inspiradora narrada com autoridade biográfica por minorias.  

Se autores vêm e vão na bolsa das influências, o que depende de fatores que estão dentro e fora da literatura, outros traços são mais constantes entre quem está começando no metiê. Há cacoetes, clichês que podem até ser lidos sob uma perspectiva histórica, cultural, mas que numa dimensão imediata ainda pertencem ao domínio da técnica. Esse é o tema de O Lugar das Palavras, de Vanessa Ferrari, ensaio curto e bem-vindo num mercado ainda carente de títulos sobre o ofício da escrita (Moinhos, 102 págs.).

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 5/10/23, sobre o livro de Vanessa e Escrita em Movimento, de Noemi Jaffe.

Fim de semana

Um livro de poesia – Jardim Botânico, Nuno Ramos (Todavia, 87 págs.).

Um livro sobre escrita – O Lugar das Palavras, Vanessa Ferrari (Moinhos, 102 págs.).

Outro – Escrita em Movimento, Noemi Jaffe (Companhia das Letras, 190 págs.).

Um filme – Worth, Sara Colangelo.

Uma entrevista – Bruno Paes Manso no Ilustríssima Conversa.

Fim de semana

Uma edição – Poesia Reunida, Sylvia Plath (Companhia das Letras, 512 págs.).

Um ensaio – Eu, Minhas Convicções E Um Moleque Preto Com Um Revólver Na Mão, Evandro Cruz Silva, Serrote.

Um documentário – Joan Didion: The Center Will Not Hold, Griffin Dune.

Uma série que vale pelo tema – The Days, Jun Masumoto.

Uma exposição – Flieg, IMS.

Fim de semana

            Um ensaio – Natalia Carillo e Pau Luque sobre hipocondria moral na Serrote.

            Um livro –Veludo Rouco, Bruna Beber (Companhia das Letras, 100 págs.).

            Um podcast – Collor versus Collor, Évelin Argenta.

            Um documentário – Wham!, Chris Smith.

            Um filme de 2007 – Margot e o Casamento, Noah Baumbach.

Fim de semana

Uma exposição – Retratistas do Morro, Sesc Pinheiros.

Um podcast – Lugar de Sonho, Nando Reis.

Um texto – Ian Bogost sobre o Twitter (aqui).

Um livro de Edward Louis – Quem Matou Meu Pai  (Todavia, 72 págs.).

Outro – Lutas e Metamorfoses de Uma Mulher (Todavia, 112 págs.).

Fim de semana

Um perfil – Larry Gagosian e o mercado da arte (aqui).

Uma entrevista – Roberto Andrés sobre 2013 (aqui).

Um livro de poemas – Expedição: Nebulosa, Marilia Garcia (Companhia das Letras, 112 págs.).

Uma exposição – Mulheres no CCSP.

Um filme – Oppenheimer, Christopher Nolan.

Fim de semana

Uma entrevista – Zé Celso no Roda Viva, 1988 (aqui).

Um texto – Thalia Vacha sobre Thomas Bernhard (aqui).

Um filme – Antena da Raça, Paloma Rocha e Luís Abramo.

Uma exposição – Antonio Obá, Pinacoteca.

Uma aula/show – João Gilberto por Arthur Nestrovski e Celso Sim.

Brilho na ratoeira

Logo no primeiro ensaio da coletânea The Moronic Inferno, de 1986 (Penguin, 208 págs), Martin Amis faz um longo comentário sobre nomes de personagens em romances de Saul Bellow. Para o autor, esse é um bom filtro para enxergar a graça, a profundidade e as ambições de determinada prosa – a visão de mundo que ela leva em si, sua capacidade de reagir ao “humor acidental” e à “poesia bizarra” da vida.

Eu diria que o trecho é um bom filtro para entender o próprio Amis, morto no mês passado aos 73 anos. As relações entre detalhe e conjunto, entre as pequenas escolhas de linguagem e os temas sociais, históricos e políticos em escala maior, pautou a carreira dessa figura grande e controversa das letras britânicas.

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 16/6/2021. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma exposição no IMS – Helena Almeida.

Outra – Iole de Freitas.

Um romance brasileiro – O crime do bom nazista, Samir Machado de Machado (Todavia, 128 págs.)

Outro – Vale o que tá escrito, Dan (DBA, 224 págs.).

Uma montagem no Oficina – Mutação de Apoteose, dir. Camila Mota.

Fim de semana

Uma série documental – History of Now, Simon Schama.

Um documentário – Natural History of Destruction, Sergei Losnitza.

Um filme meio safado – Air, Ben Affleck.

Uma conversa – Sofia Nestrovski e Rodrigo Lacerda sobre Shakespeare, 451 MHz.

Um disco – Voice Notes, Yazmin Lacey.

Otimismo nos destroços

Num texto célebre sobre uma pintura de Paul Klee, Walter Benjamin compara a história a um anjo que apenas olha para trás, registrando com impotência os destroços do progresso. A ideia possivelmente inspira um trecho de “Perestroika”, segunda parte da premiada peça Angels in America, de Tony Kushner, no qual um anjo tenta fazer o contrário: congelar ciência, costumes e fluxos migratórios porque isso tudo teria ido “longe demais”, gerando apenas “campos de matança sobre os corpos dos mortos” (Theatre Communications Group, 160 págs.).

Angels in America é de 1991, ano em que seu assunto de fundo – a epidemia de aids nos Estados Unidos – era o mais quente possível, com o número de mortes no auge assim como o estigma em torno das vítimas. Claro que a fala do anjo é irônica, uma utopia regressiva que exacerba o discurso puritano para denunciá-lo, mas a peça é mais complexa do que sugere essa passagem algo panfletária, em cima de um alvo fácil para leitores progressistas. O efeito político obtido por Kushner é, antes de tudo, um efeito de linguagem: ele nasce de uma alternância peculiar de tons, que vão do bíblico ao mundano, do lírico ao cômico de extração gay/judaica.

Nesse sentido, e embora haja todo um panorama de época nas falas de personagens representativos da Nova York dos 1980, o verdadeiro caráter documental do trabalho de Kushner é estético: a coragem, que se tornou tão rara nas décadas seguintes, de não deixar que a arte vire mero instrumento – que perca sua razão de ser ao se confundir com ação social, pregação partidária ou autoajuda, mesmo quando está do lado certo nas guerras da cultura contra a barbárie.

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 2/6/23, sobre Angels in America, Ao Amigo Que Não Me Salvou a Vida (Hervé Guibert) e Meu Irmão, Eu Mesmo (João Silvério Trevisan). Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma montagem em NY – The Sign in Sidney Brunstein’s Window, Anne Kaufman.

Outra – La Bohème.

Uma exposição em NY – Wura Natasha Ogunji, Galeria Fridman.

Outra – Xiyadie, Drawing Center.

Uma edição – Angels in America, Tony Kushner (Theatre Communications Group, 160 págs.).