Michel Laub

Mês: outubro, 2012

Links

– Dois séculos de revistas e jornais digitalizados pela Biblioteca Nacional: http://hemerotecadigital.bn.br

– Groucho Marx pedindo desculpas a Woody Allen por carta, 1967: http://goo.gl/elqpE, via @trasel

– Povo à beira da ferrovia enquanto passa o corpo de Bobby Kennedy, 1968: http://goo.gl/YzKNh, via @alexandrerodrig

– Show completo de Nick Cave em Lyon, 2001: http://goo.gl/MIK9w

– A gatinha que morreu no incêndio de Copacabana: http://goo.gl/FHYGq

– Campos de Carvalho por @antonioprata: http://goo.gl/Otp3c

– Philip Roth por Coetzee e Paul Auster: http://goo.gl/PF0j5, via @xroeder

– Maior cena de reação alérgica a remédio: http://goo.gl/N3Pon

– Maior cena de ups and downs and middles: http://goo.gl/8DG8W

– Fernando Meirelles, Laerte, Milton Hatoum e Criolo sobre os 15 anos da Bravo: http://goo.gl/cYrA2

– O suposto fim da era de ouro das séries de TV: http://goo.gl/Ho7tw, via @lordass

Fim de semana

Uma retrospectiva na Mostra de SP – Tarkóvski.

Uma exposição de polaroides no Masp – Tarkóvski.

Um livro – Carcereiros, Drauzio Varella (Companhia das Letras, 232 págs.).

Um japonês para almoçar na Paulista – Pub Kei.

Um disco de 2002 – Finally we are no one, Múm (via Nesky).

Discurso de Thomas Bernhard ao receber o Prêmio Nacional Austríaco de literatura

(Trecho de Meus Prêmios – Companhia das Letras, 111 págs., tradução de Sergio Tellaroli):

“Ilustre senhor ministro, ilustres presentes,

Não há nada a louvar, nada a amaldiçoar, nada a condenar, mas muito há de ridículo; tudo é ridículo quando se pensa na morte.

Vai-se pela vida, perturbado, imperturbado, atravessa-se a cena, tudo é intercambiável, escolado em maior ou menor grau no Estado feito de adereços: um equívoco! Compreende-se: um povo sem noção de nada, um belo país – são pais mortos ou de uma conscienciosa inconsciência, gente simplória e vil, com a pobreza de suas necessidades… É tudo uma história pregressa altamente filosófica e insuportável. As épocas são imbecis; o demoníaco em nós, um cárcere pátrio permanente, no qual os elementos da burrice e da falta de consideração se transformaram em necessidade básica cotidiana. O Estado é uma construção condenada para todo o sempre ao fracasso; o povo, à infâmia e à fraqueza mental ininterruptas. A vida é desesperança, na qual se apoiam as filosofias, um desespero que, em última instância, conduz todos à loucura.

Nós somos austríacos, somos apáticos; somos a vida sob a forma de um desinteresse abjeto na vida, somos, no processo da natureza, a megalomania sob a forma de futuro.

Tudo que temos a relatar é que somos deploráveis, presas, pela força da imaginação, de uma monotonia filosófico-econômico-mecanicista.

Um meio cujo fim é o declínio, criaturas da agonia; se algo se explica, não entendemos. Povoamos um trauma, temos medo, temos o direito de ter medo, porque logo vemos, ainda que ao fundo, sem nitidez, os gigantes do medo.

Tudo que pensamos foi pensado depois; o que sentimos é caótico; o que somos não está claro.

Não precisamos nos envergonhar, mas afinal não somos nada e não merecemos nada além do caos.

Em meu nome e em nome dos demais agraciados, agradeço ao júri e, expressamente, a todos os presentes.”

Fim de semana

Uma exposição – Fotógrafos britânicos na Fiesp.

Um filme – Era uma vez eu, verônica, Marcelo Gomes.

Um single – Punk Rock/Cody, Deafheaven.

Um perfil – Pepe Mujica na Piauí.

Uma reportagem – Coceira e a teoria do “melhor palpite do cérebro” (aqui).

Filmes da Mostra de SP cuja sinopse não dá muito ânimo

Textos do Guia Especial da Folha de S.Paulo:

Purgatório (Turquia/França/Alemanha, 2012) – Zehra e Olgun trabalham em uma cafeteria de estrada e estão sufocados com todo o vazio do cotidiano e a falta de horizonte em suas vidas.

Salsipuedes (Argentina, 2012) – Um casal vai acampar em uma floresta com o intuito de aproveitar o feriado. Mas seus planos não se concretizam.

O perdão (Alemanha, 2012) – Maria e Neils se mudam para a Noruega em busca de uma nova vida, mas um atropelamento irá colocar em xeque a visão de felicidade dos dois.

Não quero dormir sozinha (México, 2012) – A jovem Amanda vive sozinha e tem um problema psicológico que faz com que não consiga dormir sozinha. Quando precisa ajudar sua avó alcoólatra e com Alzheimer, seu equilíbrio será perturbado.

Para Elise (Alemanha, 2011) – A garota Elise sonha em ter uma vida feliz com sua mãe, que é alcoólatra.

O paraíso dos bêbados (Japão, 1962) – Kozo Atsumi vive com seu filho, com quem costuma sair para beber. Tudo muda quando o filho morre em um acidente.

Jovens de Pequim (China, 2012) – Homem desempregado, despejado e abandonado até por seu cão encontra consolo em um grupo de marginalizados.

Kill me (França/Alemanha/Suiça, 2011) – Adele é uma jovem que deseja morrer, mas não tem coragem de se suicidar. Ao se deparar com um foragido, ela lhe propõe um estranho acordo.

111 garotas (Iraque/Irã, 2012) – Cento e onze garotas curdas enviam uma carta ao presidente iraniano desesperadas com a falta de homens elegíveis. Elas ameaçam cometer suicídio coletivo se providências não forem tomadas.

38 testemunhas (França, 2012) – Uma jovem foi esfaqueada, agredida sexualmente e assassinada em público, e seus vizinhos ignoraram seus pedidos de socorro.

Hot hot hot (Luxemburgo, 2011) – Um homem de 40 anos introvertido libera sentimentos quando começa a trabalhar em um spa com sauna.

Egopress

1) Nesta quarta, 17/10, 19h30, participo de uma mesa na Livraria da Vila/Fradique com Julián Fuks e Bernardo Kucinski, finalistas do Prêmio Portugal Telecom (mediação: José Castello).

2) Em 30/10, vou a Belo Horizonte para uma conversa com José Eduardo Gonçalves no Ofício da Palavra (Museu de Artes e Ofícios, 19h30). Na mesma semana (data e local a confirmar), passo no Rio para um evento da Portugal Telecom/Oi em escolas públicas do ensino médio.

3) Em novembro estarei nos debates e lançamentos da Granta em Londres e Bath (12-16) e no Festival de Guadalajara/México (26-29).

Fim de semana

Um livro – O sentido de um fim, Julian Barnes (Rocco, 160 págs.).

Um filme estranho – Like someone in love, Abbas Kiarostami.

Um indiano em Frankfurt – Taj Taj.

Um italiano em Frankfurt – Gallo Nero.

A morada de Satã – Steigenberger Hof.

‘Cosmópolis’, de David Cronenberg

Publicado na revista Bravo, setembro/2012:

Com a adaptação de livros difíceis no currículo, caso de Almoço nu (William Burroughs) e Crash (J.G. Ballard), David Cronenberg enfrentou um desafio que parecia mais simples em Cosmópolis. O minimalismo do romance de Don DeLillo, repleto de diálogos diretos e descrições plásticas, em teoria ajuda o cineasta que procura trechos “externos” para tirar dali uma narrativa visual.

Mas é uma impressão enganosa. De todos os autores americanos em atividade, DeLillo talvez seja o melhor criador de atmosferas, algo que num texto pode ser engendrado nas frestas de um estilo transparente, que dialoga com a imaginação do leitor por meio de alusões e lacunas. A qualidade de seus romances está menos na trama que em evocações bastante literárias, feitas de nuances de tom, ritmo e melodia da prosa. “Preparação que ele adquiriu num deserto, setecentos anos antes de nascer”, diz um trecho de Cosmópolis. “Ali havia uma história, um folclore denso de tempo e destino”, informa outro. Tente fazer isso aparecer na tela.

A dificuldade se estende a todos os elementos do filme, do cenário à composição psicológica. No livro, por exemplo, a limusine do protagonista Erick Parker é descrita de forma hiperbólica, o que faz algumas de suas caraterísticas mitificadas – como o tamanho – diluírem a claustrofobia de uma história quase toda passada em alguns metros quadrados. No filme, temos apenas um carro: não há como um banco de três lugares, um frigobar ou um capô parecerem mais do que isso.

Algumas vezes o impasse é insolúvel: a riqueza que esperaríamos de um superbilionário como Parker – seus modos, roupas e aparelhos eletrônicos, tudo tão estranhamente descrito por DeLillo – não escapa de uma caracterização comum, assim como as imagens dos protestos anticapitalistas, sem impacto para quem já cansou de vê-las em telejornais. Em outras, o diretor consegue soluções notáveis por meio de recursos cinematográficos: o efeito do silêncio no interior do carro, o nonsense a sério do check up médico, o visual entre sonho e pesadelo da barbearia, a atuação de Paul Giamatti.

Ao final, o saldo é mais positivo que negativo, o que em muito se deve ao registro – já existente no livro – um tanto surreal. Como DeLillo, Cronenberg é um tipo ambíguo de moralista, que desconfia do progresso e da tecnologia sem deixar de ter certo fascínio por ambos. Cosmópolis usa a aparente falta de lógica do sistema financeiro para voltar ao tema. E seu principal acerto é evitar tratá-lo de forma direta, como faria uma narrativa panfletária ou sem ousadia.

Fim de semana

Um disco – Allelujah! Don’t bend! Ascend!, Godspeed You! Black Emperor.

Um filme nostálgico – Para Roma com amor, Woody Allen.

Outro filme nostálgico – Cara ou coroa, Ugo Giorgetti.

Um bar no Rio – Meza.

Um drink em SP – Ramona Vermelha.

Egopress

1) Diário da queda é um dos finalistas do Prêmio Portugal Telecom de Literatura. Lista completa de concorrentes: http://goo.gl/gc1Rn. Mais sobre o livro: http://goo.gl/qx1YD

2) Dia 13/10 participo de um debate (15h, com Cristovão Tezza) e uma leitura (17h, com Andrea del Fuego e João Paulo Cuenca) na Feira de Frankfurt. Mais informações: http://goo.gl/kJc20