Roland Barthes sobre o filme Júlio César (1953), de Joseph Mankievcz, em Mitologias (Difel, 256 págs., tradução de Rita Buongermino, Pedro de Souza e Rejane Janowitzer):
“O suor é também um signo. De quê? Da moralidade. Todos suam porque debatem algo consigo mesmos; supõe-se que estamos no local de uma virtude que se exerce dolorosamente, isto é, no próprio local da tragédia, e é o suor que deve deixa-la transparecer: o povo, traumatizado pela morte de César, depois pelos argumentos de Marco Antonio, transpira, combinando economicamente neste único signo a intensidade da sua emoção e a rudeza da sua condição. E os homens virtuosos, Brutus, Cassius e Casca, também não cessam de transpirar, testemunhando o enorme trabalho fisiológico que neles opera a virtude que irá gerar um crime. Suar é pensar (o que evidentemente repousa sobre um postulado característico de um povo de negociantes: pensar é uma ação violenta, cataclísmica, de que o suor é o signo menor). Em todo o filme um único homem não sua, conservando-se imberbe, inerte e estanque: César. Evidentemente, César, objeto do crime, permanece ‘seco’, pois ele não sabe, não pensa, conserva-se intacto, solitário e límpido, como deve sê-lo um testemunho.”
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