Michel Laub

Mês: maio, 2016

O imperador no Simba Safári

Claudio Angelo em A Espiral da Morte (Companhia das Letras, 489 págs.), livro sobre a mudança no clima, o derretimento dos polos, o fim do mundo como o conhecemos e uma de suas primeiras vítimas:

“Em alguns lugares, seria preciso matar os ursos e diminuir a população para que ela se tornasse viável, ou encher zoológicos de ursos-polares e cruzá-los em cativeiro até que as emissões de gases-estufa diminuíssem a ponto de permitir uma volta do gelo e sua devolução à natureza (o que pode levar décadas, séculos ou simplesmente não acontecer). Em outros, seria preciso atrair os ursos para as zonas de alimentação diferentes e acostumá-los a procurar comida nesses lugares (…). Em outros ainda, os ursos selvagens precisariam ser alimentados pelos humanos todos os anos, durante vários meses, para sobreviver (…). Essa medida traz uma série de questões políticas, econômicas, éticas e de conservação. Por exemplo: é ético caçar um mamífero [focas] para alimentar outro mamífero? O grupo [de pesquisadores] sugere que não, até porque o degelo também ameaça as populações de focas. Portanto, os ursos teriam de ser alimentados com ração especial, do tipo que é dada a animais no zoológico. O que traz outra dificuldade: como fazer isso? E quem vai pagar a conta? (…) O estudo conclui que, dada a importância econômica dos ursos-polares para algumas regiões, alimentá-los pode, sim, ser uma opção válida de conservação. Várias porções do Ártico seriam, dessa forma, convertidas numa espécie de Simba Safári gigante, onde um animal que simboliza tudo o que há de mais remoto e selvagem no imaginário do Homo sapiens seria convertido numa ‘semifera’ eternamente dependente daqueles que lhe roubaram a casa e a comida (…). Um final melancólico para o reinado de 6 milhões de anos do imperador do Ártico, o maior predador da terra.”

Fim de semana

Um livro – A espiral da morte, Claudio Angelo (Companhia das Letras, 489 págs.).

Um ensaio – Bernardo Carvalho sobre literatura e multiculturalismo (aqui).

Uma série mediana – The Affair.

Uma fraquinha – Love.

Uma temporada que só vi agora – Game of Thrones, 01.

Fim de semana

Uma série – The Jinx.

Um filme argentino – O Décimo Homem, Daniel Burman.

Um filme argentino/espanhol – Truman, Cesc Gay.

Um disco de 2014 – Bad Debt, Hiss Golden Messenger.

Um livro – Depois a Louca sou Eu, Tati Bernardi (Companhia das Letras, 140 págs.).

Egopress

– Na quarta, 18/5, 19h30, converso com alunos do curso de tradução da Uninove da Barra Funda/SP.

– No sábado, 21/5, 11h, participo do programa/debate ‘Segundas Intenções’, com Manuel da Costa Pinto, na Biblioteca de São Paulo (Carandiru).

– Vídeo completo do debate sobre autoficção, também com Manuel da Costa Pinto, que fiz no Café Filosófico da CPFL/Campinas: https://vimeo.com/162537991.

– Participação (a 42:00) no programa Radioteca, da Universidade de Coimbra/Portugal, em que a jornalista Ines Rodrigues também entrevistou Luiz Rufffato e falou de Paulo Scott e Julián Fuks: https://goo.gl/6Fm2FY

Algo chamado decoro mesmo quando estamos sozinhos

Junichiro Tanizaki em A Vida secreta do senhor de Musashi (Companhia das Letras, 218 págs., tradução de Dirce Miyamura:

“Damas nascidas numa família de daimyo (…) jamais permitiam que alguém, nem elas próprias, visse os sólidos excretados por seu corpo. Esse tipo de reserva era cumprido cavando-se abaixo do vaso sanitário uma fossa bem profunda que era preenchida com terra depois da morte da dama (…). A discrição sobre este assunto era compartilhada por todas as damas da alta sociedade. Em comparação, o vaso sanitário moderno com descarga automática, embora satisfaça no quesito limpeza e higiene, apresenta tudo abertamente à frente de nossos olhos, e assim (…) é um equipamento vulgar, grosseiro, cujo criador deve ter esquecido que existe algo chamado decoro mesmo quando estamos sozinhos.”

Fim de semana

Um filme – Straight Outta Compton, F. Gary Gray.

Um filme de Yorgos Lanthimos – The Lobster.

Outro – Dogtooth.

Um perfil – A vida de Coppola na Itália (aqui)

Um ensaio – Camila Von Holdefer sobre literatura x otimismo (aqui).

Links

– Como a manipulação do DNA mudará o mundo: http://goo.gl/hDUcDY

– Como é tirar João Gilberto no Violão: http://goo.gl/tTm891

– Por que o azul não é mencionado em relatos de civilizações antigas: http://goo.gl/QDfKHd

– Bactérias que curam tumores cerebrais: http://goo.gl/o6mfMQ

– O que sonham os doentes terminais (e como os médicos lidam com isso): http://goo.gl/QQMsvo

– Ideologia de quem vive mais ou menos como mendigo (e de quem aplaude): http://goo.gl/fqM1oo

– Javier Marías em defesa do passado: http://goo.gl/CUVseS

– Pulitzer para resenhas de heavy metal: http://goo.gl/tpV199

– História boa e horrível sobre uma mãe que perdeu a guarda do filho: http://goo.gl/HvraZ8

– Mishima falando: https://goo.gl/3O1Tja

– George Steiner falando: https://goo.gl/U4chvy

– Contos de fada são mais antigos do que se sabia: http://goo.gl/Kvg0LX

– Uma teoria original (e americana) sobre a desigualdade brasileira: http://goo.gl/U5iOGK