Michel Laub

Mês: agosto, 2020

Egopress

– Meu novo romance, Solução de dois Estados, sai em outubro pela Companhia das Letras. Nas próximas semanas postarei capa, orelha, trechos e links de pré-venda.

– Depois dos vestibulares da UFRGS e da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), Diário da Queda agora é leitura indicada do vestibular da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).

Aqui, participação minha no Festival de Finos Filmes do MIS, numa mesa sobre arte e memória com Christiane Jatahy, Silvana Bahia e Rita Mattar.

Aqui, conversa minha com Iarema Soares numa live da TAG sobre literatura e autoritarismo.

Aqui, texto que escrevi a partir de uma fotografia na série Primeira Vista, do Instituto Moreira Salles.

Fim de semana + quarentena (32)

Uma reprise – O Sétimo Selo, Bergman.

Outra – The Mosquito Coast, Peter Weir.

Uma releitura – Eichmann em Jerusalém, Hannah Arendt (Companhia das Letras, 336 págs.).

Um artigo – Os truques dos romances de ideias, por Sianne Ngai (aqui).

Outro – Como o sensacionalismo influenciou a religião, por Fabio Marton (aqui).

Fim de semana + quarentena (31)

Uma história – Israel x Emirados Árabes no The Daily.

Um artigo – Henry Kissinger por Thomas Meaney (aqui).

Um doc a favor – Axé, Chico Kertész.

Um disco de 2018 – Record, Tracey Thorn.

Uma nova edição – Herdando uma Biblioteca, Miguel Sanches Neto (Ateliê, 192 págs.).

‘Por que você está chorando?’

Toda vez que surge um tabu na arte, surge também uma transgressão. Sempre penso nisso quando ouço críticos implicando com o uso do off (ou do voice over) no cinema. Segundo a teoria, a voz acima ou fora da cena é uma espécie de muleta, um atalho vulgar para roteiristas/diretores que deveriam preferir a sofisticação dos recursos visuais – ou então a dramaturgia das falas dos atores, que só funcionaria acompanhada pela expressividade dos seus gestos.

Uma das minhas graphic novels preferidas, Fun Home, da americana Alison Bechdel (Todavia, 234 págs, tradução de André Conti), pode ser lida como uma resposta a esse clichê. A trama, sobre a relação tumultuada da autora com o pai e a própria sexualidade, é dividida entre os desenhos e longas e frequentes legendas externas aos balões de diálogo, o que no universo dos quadrinhos equivaleria ao off/voice over de um filme.

Bechdel sabe, no entanto, que a questão não é o uso do recurso xis ou ípsilon em si. Uma legenda pode ser apenas reiteração ou oferecer ao leitor uma nova camada de sentido. Em Fun Home há uma variação constante entre gravidade e leveza, muitas vezes na mesma cena. Quando o desenho flagra a banalidade do cotidiano, por exemplo, o texto a colore com citações de alta literatura. Quando o texto descreve momentos trágicos, o traço sugere uma ironia carinhosa em cima de personagens doces.

Fun Home é uma das referências que me vieram à cabeça ao ler Bezimena, de Nina Bunjevac (Zarabatana, 224 págs., tradução de Claudio R. Martini). À semelhança do livro de Bechdel, a história parte de um componente biográfico sombrio, exposto pela autora num posfácio. Em 1988, aos 15 anos, na cidade sérvia de Aleksinac, durante a ascensão do nacionalismo que desaguaria na Guerra da Bósnia (1992-1995), ela sofreu uma tentativa de estupro com a conivência (ou o auxílio ativo) de uma colega de escola.

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 21/8/2020. Íntegra aqui.

Fim de semana + quarentena (30)

Um perfil – Lorenzo Mammì por Rafael Cariello, na Piauí.

Um podcast – Agora, agora e mais agora, no Público.

Um vídeo – Lygia Clark por vários artistas (aqui).

Uma reprise de 2016 – Hypernormalisation, Adam Curtis (aqui).

Um livro de 1994 – Afirma Pereira, Antonio Tabucchi (Cosac Naify, 160 págs.).

A terra e os ossos

A palavra exata sempre foi uma arma política. Uma batalha de opinião pública começa a ser vencida quando definimos alguém como militante ou terrorista. O mesmo se dá com a memória coletiva: existem disputas sobre como chamar o processo industrial de extermínio dos judeus na Segunda Guerra (Holocausto ou Shoá), sobre o nome do horror na Ruanda de 1994 (o equivalente local para “massacre” ou “massacre absoluto”), sobre a aplicação do termo “genocídio” ao que ocorreu com os armênios em 1915 ou segue ocorrendo com os povos indígenas brasileiros.

É claro que só esse debate não previne a violência. Mas sua pertinência reafirma o poder da linguagem – e, logo, da ficção – no diálogo entre verdade histórica e sensibilidade individual, condição para um futuro que aprenda com os crimes políticos do passado. Dá para ler Torto Arado, de Itamar Vieira Junior (Todavia, 264 págs.), sob essa chave: o impacto do romance, que expõe as feridas da herança escravocrata na trajetória de duas irmãs no sertão baiano, num enredo que inclui um trauma de infância, misticismo afro-brasileiro, disputa de terras e luta sindical, é antes de mais nada um feito narrativo, estético.

O livro saiu no ano passado, depois de ganhar o prêmio Leya de literatura (que contempla textos inéditos) e ser publicado com sucesso em Portugal. Nascido em Salvador, em 1979, geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA, Itamar foi apresentado na imprensa brasileira como a raridade sociológica que de fato representa: um autor negro em meio a uma literatura majoritariamente produzida por nomes da classe média branca, que falam de temas ligados ao seu entorno – ou que, quando se propõem a sair dele, com frequência o fazem com um olhar próximo do exotismo e/ou paternalismo.

O triunfo de Torto Arado, porém, não existiria sem um manejo formal do tema para além do que já se sabe via noticiário ou militância. Esse é sempre um ponto delicado quando se faz ficção a quente, sobre algo que está no centro do debate do dia-a-dia. Enquanto algumas frases poderiam estar num post genérico sobre a situação dos quilombolas no Brasil (“passaram a entender por que ainda sofriam preconceito no posto de saúde, no mercado”), em outras a especificidade faz o livro ganhar força: “Morreu depois de comer uma sariema no desespero da fome; a ave tinha comido uma cascavel e sua carne estava impregnada do veneno.”

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 7/8/2020. Íntegra aqui.

Fim de semana + quarentena (29)

Um livro – A Fonte da Autoestima, Toni Morrison (Companhia das Letras, 456 págs.).

Um podcast – James Baldwin no Open Source.

Uma série de fotos – A infância de J.M. Coetzee (aqui).

Uma entrevista – Emicida (aqui).

Outra – Deise Ventura sobre Bolsonaro e genocídio (aqui).

Fim de semana + quarentena (28)

Uma antologia – Poesia +, Edimilson de Almeida Ferreira (Ed 34, 382 págs.).

Um artigo – Trótski no meio das árvores (aqui).

Uma reprise – Arca Russa, Alexandr Sokurov.

Uma conversa sobre Internet – Fernanda Bruno e Sergio Amadeu no Tecnopolítica.

Outra – Vera Magalhães, Patrícia Campos Melo, Marlos Ápyus e Pablo Ortellado (aqui)

Fim de semana + quarentena (27)

Um romance – Dept. of Speculation, Jenny Offill (Knopf, 192 págs.).

Uma reprise – O Apocalipse de um Cineasta, Eleanor Coppola.

Um vídeo de 1995 – Why I Never Became a Dancer, Tracey Emin (aqui).

Uma conversa de 2016 – Nick Pileggi, Irwin Winkler and Edward McDonald sobre Goodfellas (aqui).

Um debate – Caetano Galindo e Antônio Xerxenesky sobre Ulisses (aqui).