Michel Laub

Fim de semana

Um livro – História(s) do cinema, Jean-Luc Godard (Círculo de Poemas, 200 págs.).

Um filme meio over – Blonde, Andrew Dominik.

Uma série meio over – Dahmer.

Um texto – Camila Régis sobre abelhas (aqui).

Um texto com ressalvas – Ronaldo Lemos sobre pesquisas (aqui).

Publicidade

Egopress

– Nesta sexta, 7/10, às 19h, estarei numa das mesas da Festa Literária de Santa Maria, numa conversa com Renata Farias de Fellipe e Gerson Werlang. Programação completa: https://cutt.ly/KBqzxZz.

– No fim deste mês, vou a Concórdia/SC participar de encontros no Café Literário do colégio CEMAP – Pitágoras.

– Participação minha no Passaporte Literatura, do Instituto Goethe/SP, uma conversa com Marcelo Lotufo e Tarso de Melo (https://cutt.ly/qBqzsEG), e entrevista que dei à revista Ruído Manifesto, da PUC/RS (https://cutt.ly/VBqzwbw).

– Texto de Natalia Lópes, da Universidád de Chile, sobre os meus livros, os de Chico Buarque e os de João Gilberto Noll: https://cutt.ly/NBqzyPq

– Saiu o livro da Emily M. Baker, da University College London, sobre literatura latina e o Holocausto. Nele há análises do Diário da Queda e da obra de nomes como Bolaño, Patricio Pron, Lucía Puenzo e Jorge Volpi: https://cutt.ly/WBqzo5l

– Escrevi a orelha do livro O não Judeu Judeu, de Michel Gherman, lançamento da editora Fósforo.

Fim de semana

Um romance – Debaixo do Vulcão, Malcolm Lowry (Alfaguara, 388 págs.).

Um disco de 2017 – Soft Sounds from Another Planet, Japanese Breakfast.

Uma conversa de 1983 – Jorge O Mourão, Nelson Motta e Scarlet Moon (aqui).

Um perfil – Jorge O Mourão por Claudio Leal (aqui).

Uma reportagem – A extrema direita e o PDT, por Marie Declercq (aqui).

Fim de semana

Uma exposição – Cidades americanas, Pinacoteca/SP.

Um filme – Memória, Apichatpong Weerasethakul.

Um artigo – Wolfgang Tillmans e um mundo que termina (aqui).

Outro – Mishima sobre Tanizaki (aqui).

Um romance – Diorama, Carol Bensimon (Companhia das Letras, 288 págs.).

Mente literal x mente irônica

No dia em que escrevo, Salman Rushdie ainda se recupera das facadas que levou durante um evento em Chautauqua (EUA), mais de trinta anos depois de ter sido condenado à morte pelo Aiatolá Khomeini por causa do seu romance Os Versos Satânicos (1989). A história é conhecida: o escritor anglo-indiano passou quase uma década escondido, retornando à vida normal sem que o decreto religioso que o condenou por blasfêmia contra o islã fosse devidamente revogado.

O caso Rushdie tem um simbolismo que o tempo permite enxergar com mais clareza. Na época, seu calvário foi visto como exceção à regra de um mundo que se tornava mais tolerante, ao menos no Ocidente e suas periferias, com o fim da União Soviética e das ditaduras latinas – substituídas por regimes que prometiam laicismo, livre circulação de pessoas e mercadorias, redução da pobreza e respeito aos direitos humanos.

Na verdade, aquela foi uma pausa breve e artificial no que esse mundo sempre foi: um lugar instável e violento, inserido numa história que não tem sentido linear rumo ao progresso. A desigualdade, o consumismo, as mudanças tecnológicas que tornaram obsoleta uma massa imensa de trabalhadores, além da crise climática e dos desastres promovidos pelo unilateralismo norte-americano, foram campo fértil para o crescimento de aiatolás de todo gênero, o que hoje é senso comum na política dentro e fora das redes sociais.

Rushdie chamou o episódio dos Versos de “guerra entre a mente literal e a mente irônica”. E uma boa definição, que serve tanto para eventos de repercussão global quanto para a realidade próxima. As diferenças são de escala e intensidade, não de natureza. Entre tantos exemplos ocorridos entre autores brasileiros nos últimos tempos, Julián Fuks foi ameaçado de morte depois de escrever um texto em linguagem figurada no UOL, e João Paulo Cuenca virou réu em mais de 100 processos orquestrados por uma igreja – uma das aliadas do atual governo – depois de fazer uma piada no Twitter.

Início de trecho publicado no Valor Econômico, 16/9/2022. Íntegra aqui.

Gatos e guerras

Nunca entendi muito o culto a Haruki Murakami. Ou talvez tenha entendido: nos livros dele que li, todos sobre tipos solitários vagando entre referências de música, de cultura japonesa ou de ficção especulativa clássica, frases simples sobre coisas simples parecem querer evocar algo de cool – um toque de mistério existencial, digamos –, o que costuma ter lá seu apelo.

Em Abandonar um gato, publicado agora no Brasil pela Alfaguara (108 págs., tradução de Rita Kohl e ilustrações de Adriana Komura), o procedimento mostra seu poder e seus limites. Por um lado, a banalidade elevada está lá: “descer é muito mais difícil do que subir”; “os resultados engolem rapidamente as causas”; “se eu conseguisse enxergar através da palma das minhas mãos, não me surpreenderia”.

Por outro, a forma com que isso é espalhado no texto muda o efeito do conjunto. A exemplo do que ocorre com um Guimarães Rosa ou uma Clarice Lispector, cujas pílulas destacadas em redes sociais às vezes soam como demagogia ou autoajuda, é preciso olhar para o todo – o lugar-comum grudado à perspectiva de quem narra, o que pode dar sabor próprio e grandeza à soma dos fragmentos dessa voz.

Publicado no Valor Econômico, 20/8/2022. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma reportagem – A Jovem Pan e o golpe, Ana Clara Costa (aqui).

Uma entrevista – Oliver Stuenkel e a China, Ilustríssima Conversa.

Um podcast – Stalin, História FM.

Uma reprise – O Veredito, Sidney Lumet.

Um livro – Noite no Paraíso, Lucia Berlin (Companhia das Letras, 300 págs.).

Do Datena à utopia

Algumas semanas atrás o Twitter se indignou por algo dito ou feito por José Luiz Datena. Foi uma coincidência irônica, já que a própria plataforma às vezes lembra os programas policiais de tevê: um circo de horrores (sempre haverá um crime ou frase hedionda à disposição na timeline) que alimenta e é alimentado pela reação furiosa (e compreensível, como é a da dona de casa ao saber da história de assassinos e estupradores).

A diferença poderia ser que Datena manipula emoções para reforçar o sentimento reacionário, enquanto no Twitter progressista estamos a serviço de causas emancipatórias. Mas o resultado é esse mesmo? Já tive menos dúvidas a respeito. As demandas são esquecidas em dois dias, quando surge o novo fato a nos chocar – e dar recompensa narcísica pelos likes recebidos, e dinheiro para corporações via aumento de audiência.

Não é difícil perceber como a dinâmica desses sinais duplos – raiva e inação, crítica e passividade – pode servir a estruturas de poder. A gritaria com Datena ocorreu enquanto eu lia Do Transe à Vertigem, do professor da PUC-RJ Rodrigo Nunes (Ubu, 208 págs.), que em alguns trechos fala disso: há uma relação entre o sistema que em grande escala destrói a natureza, deixando pelo caminho um legado de desigualdade e anomia, e afetos não ideologicamente neutros do nosso cotidiano.

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 5-8-2022. Íntegra aqui.

Fim de semana

Um filme – The Assistant, Kitty Green.

Um curta – Superbarroco, Renata Pinheiro.

Uma montagem no Sesc Pompeia – As Três Irmãs.

Um artigo – Rebbeca Bengal sobre Dare Wright (aqui).

Um livro – Do Transe à Vertigem, Rodrigo Nunes (Ubu, 208 págs.).

Coisas que não deveriam acontecer

Um dos quatro filhos de Nick Cave morreu em maio último, aos 31 anos. Outro havia morrido em 2015, aos 15. É indevido especular sobre o reflexo dessas perdas nas letras do compositor e cantor australiano? No álbum Seven psalms, lançado no fim de junho, uma das faixas se chama Such things should never happen. Entre as coisas que não deveriam jamais acontecer, os versos falam de filhotes de andorinha indefesos, da mãe que chora ao lado de um pequeno caixão.

Texto publicado no Valor Econômico, 23-7-22, sobre Nick Cave e o romance Não Fossem as Sílabas do Sábado, de Mariana Salomão Carrara. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma reportagem – O STF e o golpe, Marina Dias (aqui).

Um texto – Biden e o fracasso, Adam Tooze (aqui).

Uma série – Pacto Brutal, Tatiana Issa e Guto Barra.

Um média metragem – North Terminal, Lucrecia Martel.

Uma coletânea – A Escravidão na Poesia Brasileira, org. Alexei Bueno (Record, 714 págs.).

Fim de semana

Uma série – Gaslit.

Um artigo – Darshana Narayan sobre Yuval N Harari (aqui).

Uma conversa – Bob Fernandes e Raquel Rolnik (aqui).

Um documentário – This Much I Know to be True, Andrew Dominik.

Um livro – Os Devaneios do Caminhante Solitário, Rousseau (Edipro, 128 págs.).

O que deveria estar ali?

Em 2001, o compositor alemão Karlheinz Stockhausen causou algum barulho ao dizer que os atentados do 11/9 eram a maior obra de arte já realizada. Pouco depois, pulando o debate sobre a inconveniência da frase naquele momento dramático, o escritor, curador e crítico Teixeira Coelho publicou um ensaio na revista Bravo sobre a presença do mal em pinturas, livros, filmes.

O texto não tratava de questões temáticas: obras sobre dor ou injustiça, por exemplo. Comentando sobre uma tela de Coopley (1778), na qual um tubarão está prestes a atacar uma mulher nua, Coelho escreve que nela “perigosa é a vida, não a arte”, pois essa “não ameaça nem seu observador, nem seu artista”. Já numa de J. Vanderlyn (1804), em que uma branca está prestes a ser morta por indígenas, o tom seria o do martírio – “e o martírio (…), ao menos para a vítima, pode ser o caminho do bem.”

O mal na arte é outra coisa: “Aquilo que não deveria estar ali (…), que não deveria ser desse modo”. Um dos casos citados no ensaio é Retrato da Família Gozzadini (1584), pintura da italiana Lavinia Fontana que põe em cena uma dinastia nobre de Bolonha, misturando personagens vivos e mortos. O incômodo que emerge da tela é mais difuso, menos suportável porque estático, “sempre igual a si mesmo”: “Não há torturas e mortes, apenas um retrato de grupo. Mas a escuridão prevalece, as feições são duras, as mãos se crispam num pálido balé ameaçador que as roupas suntuosas tornam ainda mais pesado.”

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 8-7-2022. Íntegra aqui.

Fim de semana

Um depoimento – Heloisa Jahn (aqui).

Uma conversa – Mano Brown e Zeca Pagodinho (Spotify).

Uma exposição no Tomie Ohtake – Anna Maria Maiolino.

Outra – Tomie Ohtake.

Uma graphic novel – Flying Couch, Amy Kurzweil (Catapult, 224 págs.).

Fim de semana

Um disco – Seven Psalms, Nick Cave.

Um filme – Crimes of the Future, David Cronenberg.

Uma série ok – Modern Love.

Uma entrevista – Leão Serva sobre guerra e imagens (aqui).

Um romance – Não Fossem as Sílabas do Sábado, Mariana Salomão Carrara (Todavia, 168 págs.).

Fim de semana

Um resumo – Roe vs. Wade no The Daily.

Uma peça – O poder do sim, David Hare (Temporal, 184 págs.).

Um filme – The Card Counter, Paul Schrader.

Um doc médio – Spielberg, Susan Lacy.

Uma série ok – Transparent.

Fim de semana

Um vídeo – A China e a vigilância (aqui).

Uma entrevista – Rodrigo Nunes e a esquerda (aqui).

Um depoimento – Aranha e o racismo (Piauí).

Um livro – O Corpo Crítico, Jean-Claude Bernardet (Companhia das Letras, 128 págs.).

Um filme bom, mas chato – Pleasure, Ninja Thyberg.

O furacão que tudo contém

Como explicar a tragédia política brasileira a partir da estética? A pergunta acompanha quem lê o clássico As Raízes do Romantismo, do filósofo anglo-russo Isaiah Berlin (1909-1997), que acaba de sair em nova edição pela Fósforo (246 págs., tradução de Isa Mara Lando). Baseado em palestras dadas em 1965, em Washington, o livro descreve uma “doutrina ardente, fanática, meio insana” que, em alguns aspectos, e ao menos na projeção imediata de quem lê, dialoga com o noticiário de 2022.

Berlin pena ao buscar uma definição do romantismo, a “maior mudança já ocorrida na consciência do Ocidente”. Afinal, esse movimento cujas origens remontam à Alemanha do século 18, um território isolado e ainda devastado pela derrota na Guerra dos 30 anos (1618-1638), é múltiplo e contraditório. Nele convivem a saúde e a doença, o misterioso e o familiar, o caos das revoluções e a dissolução pacífica no “eterno espírito que tudo contém”, entre dezenas de opostos listados.

Em determinado ponto, contudo, há uma tentativa de síntese. O que unira a fragmentação romântica nas artes, na moral, no pensamento e na ação política seria a vontade de “romper a natureza do que é dado”, aplicada a um alvo específico: a tradição racionalista ocidental, então encarnada pelo Iluminismo, com sua ideia de que a história anda rumo ao progresso, de que a vida é um quebra-cabeças cujas peças o método científico/analítico há de encaixar.

Início de texto publicado no Valor Econômico, 22/4/2022. Íntegra aqui.

Fim de semana

Um filme – Ilusões Perdidas, Xavier Giannoli.

Um podcast – Discoteca Básica.

Um texto – Juliana Cunha sobre Paul Simon (aqui).

Outro – Thomas Meaney sobre Lea Ypi e a Albânia (aqui).

Um livro de 2007 – 20 Poemas para o seu Walkman, Marília Garcia (Sete Letras. 90 págs.)

A célula idiota

“Não é difícil perceber o momento em que uma localidade começa a agir como célula idiota”, diz a escritora e ativista Jane Jacobs em seu Morte e Vida de Grandes Cidades (Martins Fontes, 510 págs., tradução de Carlos S. Mendes Rocha). A tendência de um morador da Zona Oeste de São Paulo é relacionar a metáfora, ligada a organismos cancerígenos produzindo incessantemente “material de que não necessitam”, com aquilo que vê todos os dias.

Nos últimos anos, por distorções na regulação e aplicação do bom Plano Diretor de 2014, lugares como Pinheiros, Pompeia e Vila Madalena dão razão a esse pessimismo. O que no jargão do texto oficial se chama adensamento, ou a ideia justa de que áreas próximas a transporte e emprego sejam ocupadas por mais pessoas, com prédios altos nos arredores de avenidas e preservação do miolo dos bairros, na prática está virando uma paisagem do mercado imobiliário.

Publicado no Valor Econômico, 10/6/2022. Íntegra aqui.

Fim de semana

Uma exposição – Bispo do Rosário, Itaú Cultural.

Um evento – Feira do Livro, Pacaembu.

Um livro – Só Nós, Claudia Rankine (Todavia, 352 págs.).

Outro – Engenheiro Fantasma, Fabricio Corsaletti (Companhia das Letras, 128 págs.).

Um documentário – Cinema Novo, Eryk Rocha.

Fim de semana

Um depoimento – Brizola sobre golpes e história (aqui).

Uma coletânea de ensaios – Situando Jane Jacobs (Annablume, 320 págs.).

Um documentário – Hitler, uma Carreira, Joachim Fest e Christian Herrendoerfer.

Um filme médio sobre Lyndon B. Johnson – LBJ, Rob Reiner.

Outro – Bastidores da Guerra, John Frankenheimer.

Um ramo das ações práticas

Em 1992, quando fui obrigado a servir no CPOR de Porto Alegre, ouvi muitas queixas dos militares sobre a então recente demarcação das terras Yanomâmi, na Amazônia. Um oficial dizia que era preciso conhecer a floresta num “avião de verdade”, um teco-teco que voasse em distância visual da copa das árvores, para ter a dimensão do que estava realmente em disputa ali: uma riqueza esperando “até a linha do horizonte” para ser “descoberta” e “salvar o país”.

Algumas semanas atrás tive experiência semelhante, mas sob outro ângulo. Estive no festival literário Navegar é Preciso, promovido pela Livraria da Vila/SP e a agência Auroraeco, que há dez anos leva escritores, artistas e público numa viagem magnífica pelo Rio Negro, partindo de Manaus. Da cabine do barco, a noção de espaço do teco-teco vira um outro tipo de infinito, compensando os limites do olhar que só chega a algumas centenas de metros: a paisagem mais ou menos monótona das margens do rio, com árvores não muito altas e não muito diferentes entre si, deixa na imaginação a marca de sua constância por horas, dias.

Ter contato com a floresta é pensar no tempo. No imaginário da região, as distâncias não são medidas em metros ou quilômetros, mas pela duração dos percursos a pé ou na água. Um dos guias da viagem, Auzenir Botelho de Souza, que passou a infância numa comunidade ribeirinha onde os vizinhos não enxergavam as casas uns dos outros, usa décadas de observação e treino em caçadas com o pai para ganhar o sustento. Capaz de imitar o assovio de mais de cinquenta pássaros, por muitos anos ele ajudou cientistas estrangeiros a identificar espécies na língua local (“Catitu”, “Chorona da Canarana”, “Surucuá do Rabo Branco”) e no inglês que estudou sozinho (“Musician Wren”, “Pigmy Screech Owl”).

Numa lancha à noite, horário de atividade da maioria dos animais, Souza reconhece o som de ratos do mato, mergulhões, corujas. Alguns cantam para se acasalar ou proteger o território, numa sinfonia exuberante de vida que revela, nos mesmos acordes, uma precariedade comovente: o equilíbrio ameaçado pela ação humana, como a beleza de um corpo jovem prestes a morrer.

Muita coisa continua igual de 1992 para cá, e muita coisa mudou. Aquele foi o ano da ECO, conferência mundial sobre o clima que fez chegar ao mainstream uma ideia romântica, transformada em urgência política pelos movimentos ecológicos dos anos 1960/1970: a de que havia algo a se aprender com a floresta, em vez de impor a ela a lógica sob a qual vivemos na cidade, no sistema capitalista.

Nas últimas décadas essa ideia se tornou dominante entre acadêmicos, ativistas e público sensível – vide a repercussão do que diz uma liderança Yanomâmi como Davi Kopenawa. Mas no mundo concreto quem venceu foi o oficial do CPOR, cujo discurso é o do governo brasileiro de turno: uma visão tributária da ditadura, que situa a Amazônia na geopolítica moldada pela Guerra Fria – com seu combate a ongues “vermelhas”, seu desenvolvimentismo local de curto prazo diante de uma emergência que é planetária, da espécie como um todo. Para quem está minimamente informado a respeito, o cenário é desolador. Mas há luzes aqui e ali.

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 27/5/2022. Íntegra aqui.

Fim de semana

Um livro – Morte e Vida de Grandes Cidades, Jane Jacobs (Martins Fontes, 508 págs.).

Um disco – Motomami, Rosalia.

Uma entrevista – Gilberto Gil, 80 (aqui).

Uma exposição no IMS/SP – Daido Moriyana.

Outra – Walter Firmo.

Fim de semana

Um documentário – O Barato de Iacanga, Thiago Mattar.

Uma exposição no Sesc Pompeia – Amazônia, Sebastião Salgado

Uma série de reportagens na Piauí – Amazônia, João Moreira Salles.

Uma entrevista – Werner Herzog (aqui).

Um romanceBeatriz e o Poeta, Cristovão Tezza (Todavia, 188 págs.).

Egopress

– Nesta semana participo do Navegar é Preciso, cruzeiro da Livraria da Vila com escritores/as pelo Rio Negro, na Amazônia. Mais informações: https://www.navegarepreciso.org/

– Participação minha no lançamento de Diário da Queda na Polônia (Editora Pauza), no fim de 2021: https://cutt.ly/DGIM6xs

– Entrevistas mais ou menos recentes: para Natália Lopez Rico (Universidade del Chile), Joanna Moszczynska (Universität Regensurg) e Horst Nitschack (Universidad de Chile) na Revista de Humanidades: https://cutt.ly/rGI16t1; para Sergius Gonzaga no Livros de Nossa Vida, da Biblioteca Josué Guimarães/RS: https://cutt.ly/6GI1QPK; para Táki Cordás (Departamento de Psiquiatria/USP), Discutir Literatura: Para quê?: https://cutt.ly/bGI0ooH

– A partir do fim de maio, volto a fazer leituras de originais de ficção por encomenda. Mais informações pelo laub.michel@gmail.com

Fim de semana

Uma exposição no Masp – Luiz Zerbini.

Outra – Volpi.

Uma conversa – Mano Brown e Sidarta Ribeiro (Spotify).

Uma entrevista – Harvey Pekar e Joyce Brabner (aqui).

Uma memória – Roberto Muggiati sobre a revista Manchete (aqui).

Fim de semana

Um livro – Quando deixamos de entender o mundo, Benjamin Labatut (Todavia, 176 págs.).

Um doc/show – Shut Up and Play the Hits, Will Lovelace e Dylan Southern.

Um doc médio – Reading Susan Sontag, Nancy Kates.

Uma conversa – Susan Sontag e John Berger sobre ficção (aqui).

Uma entrevista – Robert Karo sobre biografias (aqui).

Fim de semana

Uma palestra – Lourenço Mutarelli sobre desenho e narrativa (aqui).

Um disco – Avenida Angélica, Vitor Ramil.

Um filme convencional – King Richard, Reinaldo Marcus Green.

Um filme de 1985 – Debaixo do Vulcão, John Huston.

Um livrinho – How to Start Writing (and When to Stop), Wislawa Szymborska (New Directions, 96 págs.).

Eu e o outro eu

A data da primeira entrada dos Diários de Andy Warhol é 27 de novembro de 1976, uma quarta-feira. A da última é 17 de fevereiro de 1987, uma terça, cinco dias antes da morte do artista americano. Em pouco mais de dez anos, o que iniciou como mera anotação de encontros e eventos, com a listagem dos respectivos gastos para controle de Imposto de Renda, virou um documento sui generis sobre a cultura do último meio século (L&PM, 851 págs, organização/seleção de Pat Hackett e tradução de Celso Loureiro Chaves).

Para chegar a essa conclusão, é preciso atravessar uma certa aridez do livro. À primeira vista, nele há apenas um registro em tom menor, composto de impressões ligeiras e adjetivadas. A agudez possível emerge de uma frase lapidar aqui, uma expressão venenosa ali, em meio a muitos momentos repetitivos, irrelevantes à sombra do tempo: “dedos muito delicados (…), do mesmo tamanho que os meus e metade da largura” (sobre Miles Davis); “calças hindus de pele de leopardo (…), parecia um domador de circo” (sobre Rainer W. Fassbinder); “é chato, um horror (…), mas aí vi o pessoal da imprensa se aproximando (…) e disse que tinha gostado demais” (sobre o filme “O Fundo do Coração”, de Francis F. Coppola).

É comum ver Warhol como figura visionária, que fundiu influências – de Marcel Duchamp a Marshall McLuhan – na construção de uma obra que, desde os anos 1960, por sua força e abrangência no retrato irônico/fascinado da fama e do consumo, antecipou a dinâmica do atual sistema de redes sociais e celebridades. Mas a motivação que gerou tal legado, presente em pinturas, fotografias, nos filmes produzidos no estúdio The Factory, na edição da revista Interview, segue motivo de disputa cultural. Se os Diários podiam soar frívolos em 1989, ano em que foram publicados, em 2022 servem para iluminar um debate mais amplo sobre identidade.

Trecho de texto publicado no Valor Econômico, 2/4/2022. Íntegra aqui.

%d blogueiros gostam disto: