Cem escritores brasileiros e suas manias quando escrevem (15)

por Michel Laub

Amilcar Bettega Barbosa, autor de Os lados do círculo – “Minhas manias são para não escrever. Faço de tudo para fugir do momento de escrever. Sou o rei da procrastinação, principalmente quando se trata da escrita. Posso ficar semanas, meses até, sem escrever. Aí, de repente, num só dia sou capaz de escrever uma página. E me sinto o cara mais feliz do mundo. Talvez algumas manias para escrever me ajudassem na disciplina, coisa que absolutamente não tenho. O que tenho são preferências, mas não posso dizer que são condições para escrever, longe disso. Por exemplo : gosto de uma mesa limpa e organizada, mas normalmente ela é uma bagunça; gosto de um incenso queimando, mas quase sempre esqueço de comprar; gosto de escrever de manhã, mas faço quando dá. Ultimamente comecei a escrever em lugares públicos, tipo cafés e bibliotecas. As únicas coisas que não mudam nunca são: 1) escrevo sempre à mão, em cadernos (de preferência com folhas sem linhas) e com caneta tipo roller ball de tinta preta; e 2) não consigo escrever de noite.”

Luiz Alfredo Garcia-Roza, autor de Céu de origamis – “Escrevo no meu escritório, fora de casa, sozinho, durante o dia. Preciso de isolamento e silêncio. Trabalho diretamente no computador, quando muito me sirvo de um borrador onde registro a lápis uma ideia repentina ou uma palavra solta. Quando um bloqueio persiste, saio andando pelo centro da cidade.”

Paulo Henriques Britto, autor de Paraísos artificiais – “Não tenho hora certa para escrever, não tenho nenhum ritual; escrevo de manhã ou de noite, com música ou sem. Poesia escrevo primeiro a caneta num caderno, e depois, quando o poema chega a ser concluído (um em cada vinte dos que inicio, mais ou menos), passo para o computador e imprimo uma cópia. Prosa escrevo direto no computador, e também só imprimo quando dou por pronto.”

Reinaldo Moraes, autor de Pornopopéia – “Escrevo de qualquer jeito, sem música, secundado por uma xícara de café bem forte, se for de manhã, ou por um cigarrinho de artista e uma loirinha gelada (nenhuma daquelas 3 ninfetas, infelizmente), se já for mais de 6 da tarde. Prefiro não escrever minhas coisas à tarde, período do dia que utilizo mais para sestas e leituras. Mas, se estiver no pique, escrevo, sem problemas. Funciono melhor de manhã, às vezes com o sol raiando, e à noite, entre 7 e 1/2 noite – mas não de madrugada. Obviamente, solidão e silêncio são bem-vindos. De resto, é cadeira e mesa para apoiar o notebook, e uma janela ao alcance do olhar que se abra para uma paisagem não excessivamente confinada e opressiva.”

Simone Campos, autora de Amostragem completa – “Eu não dirijo, então escrevo muito em transportes públicos (ou bancos de carona). A letra é ininteligível, primeiro porque ônibus balança muito e segundo porque tenho paranoia de alguém ver o que estou escrevendo. O toque de glamour fica por conta do material empregado, geralmente canetas Lakubo ou Bic 4 cores sobre cadernos Paperblanks. Neles, além de literatura, também copio citações, faço esquemas, defino personagens e tramas… os cadernos acabam rapidinho. Depois passo os textos para o computador. Como agora sou assalariada, acabo entrando pela madrugada e chegando atrasada no trabalho; ou escrevendo no horário de almoço; ou, ainda, no fim de semana. Antes, quando fazia traduções em casa, eu não tinha horário para escrever: agora tenho estado nesse esquema ou-vai-ou-racha. Funciona.”