Arestas e controle

por Michel Laub

Ficou famosa a carta que Malcolm Lowry enviou a um editor, como resposta a uma sugestão de corte em Debaixo do Vulcão, justificando a necessidade de preservar cada palavra dele. Lendo o romance, o argumento faz sentido, embora o texto deixe arestas e desvios em seu rastro. Impressão diversa fica de Diorama, novo livro de Carol Bensimon, em que o controle narrativo faz as ações e a psicologia soarem mais constantes, coerentes entre si.

(…)

Li o romance de Lowry ao longo de meses, com pausas devidas à confusão do dia-a-dia e ao fôlego exigido pela imersão em sua prosa. Já o de Carol eu terminei em uma semana: não só pelo interesse na versão que o livro dá ao crime célebre, cuja reconstituição traz à tona o “lodo da história do Brasil”, mas porque ele funde o peso político de suas conclusões à leveza da intriga. A qualidade do texto é também sua estrutura: capítulos que terminam com ganchos, referências que voltam com um novo significado, diálogos que se alternam com descrições e ensaísmo sem perder o pulso da trama.

Trecho de texto sobre os dois livros citados, publicado no Valor Econômico, 2-10-22. Íntegra aqui.

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