Lançamentos em DVD

 

(publicado no guia de DVDs da Folha):

 

Caos calmo – Nanni Moretti já tinha tratado do luto como diretor e ator em O quarto do filho. Talvez por isso tenha sido escolhido por Antonio Luigi Grimaldi para estrelar e ajudar a escrever o roteiro deste filme curioso e original, cuja abordagem vai além da tristeza solene que costuma acompanhar o tema. No papel de um executivo de sucesso que perde a mulher e a partir daí passa os dias num banco de praça em frente à escola da filha, Moretti é um personagem que não aparenta sofrer a dor da perda, mas que consegue transmiti-la por oposição como se ela fosse o negativo presente em seu cotidiano de pequenas alegrias e pequenos reveses, contado em imagens que alternam lirismo e uma simplicidade muitas vezes comovente.

 

Vicky Cristina Barcelona – Difícil saber como este filme seria julgado se o diretor não fosse Woody Allen. Graças a tamanha grife, tudo o que ele tem de frouxo na construção de alguns tipos – como o latin lover irresistível – e na forma como mostra Barcelona – limitando-se a imagens turísticas – é visto de maneira generosa, como uma ironia com os lugares-comuns da visão americana sobre a Europa. Apesar dessa vantagem nem sempre justa, são inegáveis os dois principais méritos da história: a composição da personagem de Scarlett Johansson, com seu vício trágico na novidade das relações amorosas, e a fúria exuberante de Penélope Cruz como mulher que encarna os sonhos e pesadelos de boa parte dos homens.

 

Falsa Loura – Considerado o contexto do cinema brasileiro recente, repleto de filmes pessimistas sobre a vida nas favelas, a proposta de Carlos Reichenbach tem certo frescor: retratar o universo da baixa classe média operária com a mão um pouco mais leve, fugindo da ideologia e (quase sempre) do paternalismo. Mas se há interesse sociológico na ambientação dos bailes, das jornadas na fábrica e do cotidiano na periferia onde mora a protagonista, interpretada com vivacidade por Rosanne Mulholland, a encenação da história é irregular. Não por às vezes fugir da verossimilhança, caso dos números musicais e dos personagens caricatos – o cantor galã, o vizinho com sotaque carregado, o advogado rico e malévolo -, e sim por permitir que alguns diálogos e dramas se contentem com a densidade de uma novela de TV.